Blog da Casa de Caridade Luz Divina - dirigente espiritual Vovó Luiza

11 de março de 2016

Inveja: a tristeza pela felicidade do outro

A tristeza em relação às coisas boas dos outros. É essa a definição de Tomás de Aquino para a inveja. Napoleão Bonaparte, por sua vez, costumava afirmar que "a inveja é um atestado de inferioridade". Ao contrário dos demais pecados, a inveja é um pecado que causa vergonha, que não goza de boa reputação.
Dizer-se guloso não é problema para ninguém. Dizer-se luxurioso é, muitas vezes, motivo para gabar-se. O pecado da ira é, em nossos dias, comum no trânsito, nas relações de trabalho e nas familiares. Mas dizer-se invejoso, ah isso não. Quase nunca admitimos que temos inveja de algo. E quando admitimos, dizemos que é uma inveja branca, o que não existe!
Para Espinosa, “Se imaginarmos que alguém se alegra com uma coisa que pode ser possuída apenas por um só, esforçar-nos-emos por fazer de maneira que ele não possua esta coisa. [...] Vemos assim como os homens são geralmente dispostos por natureza a invejar aqueles que são felizes e a invejá-los com um ódio tanto maior quanto mais amam a coisa que imaginam na posse do outro”.
Renato Mezan, em um artigo publicado em Os Sentidos da Paixão, vai nos dizer que a “inveja tem parentesco com o desejo, a agressividade, a astúcia e a sagacidade, o roubo e a rapina; há algo nela que tem a ver com os olhos; seu objeto é indeterminado, variando do ‘qualquer coisa’ ao ‘tudo’”. E, por isso, devemos estar atentos à diferença entre a cobiça e a inveja. Cobiçar é desejar o que os outros têm. E esta pode ser positiva. Agora a inveja nunca é positiva, é sempre tristeza pela alegria alheia, pelo que o outro tem.
Neste aspecto, voltamos à etimologia da palavra, que vem do latim invidia, aquele que não vê. O invejoso não vê a si, só vê os outros. No Inferno de Dante, os invejosos têm os olhos costurados com arame. O que está relacionado com a não visão que a inveja provoca.
Pintada como uma mulher sinistra por Giotto, a inveja tem uma serpente que sai de sua boca e que retorna a ela, penetrando-a pelos olhos, parecendo querer dizer que a energia enviada pela pessoa invejosa retorna sobre o sujeito, cegando-o, envenenando seu olhar, infundindo-lhe um olho mau.

Ainda sob o aspecto da visão, não é demais lembrar o “olho gordo” da inveja, que seca, esteriliza e mata. A palavra também quer dizer olhar com malícia. É comumente associada à cor verde, como na expressão "verde de inveja". A frase "monstro de olhos esverdeados" se refere a um indivíduo que é motivado pela inveja. A expressão é retirada de uma frase de Otelo de Shakespeare, cuja personagem Iago é a personificação da inveja.
A inveja está fundada no ódio e a espoliação se faz com agressividade. No entanto, é importante atentar-se para o fato de que, embora esteja ligada à voracidade, a inveja não se confunde com ela: o voraz quer obter algo para si, o invejoso, não. O objetivo do invejoso é tirar algo do, o invejoso não inveja o que precisa para si, mas algo que precisa tirar do outro. É o que ocorre entre Caim e Abel:
1Adão conheceu Eva, sua mulher, e ela concebeu e deu à luz Caim, e disse: “Possuí um homem com a ajuda do Senhor.” 2E deu em seguida à luz Abel, irmão de Caim. Abel tornou-se pastor e Caim lavrador. 3Passado algum tempo, ofereceu Caim frutos da terra em oblação ao Senhor. 4Abel, de seu lado, ofereceu dos primogênitos do seu rebanho e das gorduras dele; e o Senhor olhou com agrado para Abel e para sua oblação, 5mas não olhou para Caim, nem para os seus dons. Caim ficou extremamente irritado com isso, e o seu semblante tornou-se abatido. 6O Senhor disse-lhe: “Por que estás irado? E por que está abatido o teu semblante? 7Se praticares o bem, sem dúvida alguma poderás reabilitar-te. Mas se precederes mal, o pecado estará à tua porta, espreitando-te; mas, tu deverás dominá-lo”. 8Caim disse então a Abel, seu irmão: “Vamos ao campo.” Logo que chegaram ao campo, Caim atirou-se sobre seu irmão e matou-o (Gn 4,1-9).
A representação de Ovídio é peculiar:
A inveja habita no fundo de um vale onde jamais se vê o sol. Nenhum vento o atravessa; ali reinam a tristeza e o frio, jamais se acende o fogo, há sempre trevas espessas [...]. A palidez cobre seu rosto, seu corpo é descarnado, o olhar não se fixa em parte alguma. Tem os dentes manchados de tártaro, o seio esverdeado pela bile, a língua úmida de veneno. Ela ignora o sorriso, salvo aquele que é excitado pela visão da dor [...]. Assiste com despeito o sucesso dos homens e esse espetáculo a corrói; ao dilacerar os outros, ela se dilacera a si mesma, e este é seu suplício (OVÍDIO, 1996, p. 770 e seg.).
A inveja está relacionada com alguém próximo a nós. Não invejamos a quem está longe, mas invejamos o cunhado, o colega de trabalho, o vizinho. E muitas vezes colocamos a inveja como o motivo de nossa falta: o fato de não ter conseguido um emprego, o fato de não ter conseguido uma vaga na universidade, o fato de não ter conseguido uma bolsa de estudos.
Se postarmos agora no Facebook o seguinte: “Estou muito feliz, fui promovida, estou bem de saúde e amando!”. Que respostas teremos? “Hummm...”, “Sei.”, ou o silêncio. Mas e se postarmos “Luto”, logo teremos uma lista enorme de solidariedade. O invejoso não se reconhece, o invejoso não vê (novamente a etimologia da palavra).
Espiritualmente, o invejoso é um vampiro de energia e, sendo assim, com certeza acarretará muitos problemas para si, tanto na vida presente quanto no seu karma em geral.
O invejoso sempre almeja o que não tem. Machado de Assis nos diz que, em vez de pensar-se a si mesmo, a inveja nos dá a cegueira para não enxergar a nós mesmos. Estamos, sempre, buscando o que nos falta, pela comparação com o outro. E sempre haverá alguém pior e alguém melhor do que eu.
Fonte: Kyldes Batista Vicente


5 de março de 2016

Crianças na Umbanda

Crianças ou Ibeijada são espíritos que incorporam em médiuns da Umbanda e de outras religiões afro-brasileiras, trazendo nomes infantis. Caracterizam uma criança na forma de falar, nos gestos, na inocência das brincadeiras, transmitindo muita alegria na maioria das vezes. São representados em imagem tripla (Cosme, Damião e Doum) ou sincretizados na imagem dos santos gêmeos Cosme e Damião, e em algumas regiões chamados também de Crispim e Crispiniano.

Por ocasião da festa, a 27 de setembro, os terreiros distribuem doces e fazem uma mesa farta para as crianças que incorporam nos médiuns. As cores são azul claro e rosa. As entidades possuem diversos pontos de atuação: cachoeiras, praias, matas e lajeados.

As oferendas normalmente são feitas em jardins e são sempre doces, refrigerantes, além de frutas. Quando incorporam nos terreiros, são brincalhões, travessos, meigos e chorões. São entidades de grande atuação e força espiritual. Sempre se comenta nos terreiros que quando uma criança faz um trabalho, só ela tem o poder de tirar. Também têm grande poder de cura.
Exemplos de nomes de crianças:
Rosinha da Praia
Ritinha
Mariazinha da beira da Praia
Mariazinha da pedra da Cachoeira
Marcelinho
Pedrinho da Praia
Jorginho
Pedrinho da Mata
Caboclinho da Mata
Mariazinha da Mata
Joãozinho da Pedra Branca
Zezinho do Lajedo
Bentinha
Mariazinha
Julinha
Joãozinho
Camponesa
Raio de Sol
Rosinha
Malandrinho
Joãozinho da Mata
Aninha
Crispim do Cantua
Zezé
Zezinho
Joaninha
Juquinha
Ritinha
Paulinho
Estherzinha
Maria Flor
Terezinha
Miguelzinho

Jeremias
Geremias
Margarida
Catarina
Lazinho

Esta faculdade de apresentar-se e agir como criança, não quer dizer que seja um espírito-criança. Pode ser, talvez, mais velho que os pais. Ele vem com aspecto ou forma infantil porque é conveniente vir assim, pois do contrário, dificilmente seria reconhecido. E também por se identificar com esta linha de trabalho.

1 de março de 2016

Ogum

Ogum é o Orixá que rege as batalhas. Todos os instrumentos são consagrados a Ogum, uma vez que, acima de tudo, é ele o Orixá da forja e da metalurgia, processo de manipulação dos metais.
Por isso, um dos símbolos deste Orixá são as sete ferramentas juntas, que representam exatamente este poder sobre os metais, em especial o ferro, considerado o metal negro, símbolo da relação de Ogum com o elemento terra.
Entendemos Ogum, acima de seu papel mitológico, como o impulso Divino primordial. Este Orixá é a força que rege todo início de movimento, força que rompe a barreira estática de todo início de processo. Quem não percebe que o começo de um processo pode parecer lento e difícil, mas que a continuidade de um processo já iniciado não parece tão maçante assim? É Ogum aquela energia que possibilita o início do que quer que seja. É a explosão inicial e a quebra do equilíbrio estático.
Também em Ogum vemos uma forte relação com todos os Orixás. Ele é considerado um dos Orixás mais antigos, já que estava lá quando tudo foi iniciado. É considerado a força irmã da energia de Exu (o movimento), sendo que Exu e Ogum andam sempre juntos.
Ogum é o Orixá do movimento e do impulso. Sua energia se relaciona com todo processo de revolta que gera uma mudança em relação ao padrão anterior. É a energia da conquista que não se preocupa com a manutenção do conquistado. Por isto, diz-se que Ogum é a figura mitológica do grande guerreiro, o grande general que lidera e vence todas as batalhas. O guerreiro valente e impulsivo que, com sua ira e suas armas, submete todos os inimigos e derruba todos os obstáculos.
É um Orixá fortemente relacionado com os elementos terra e fogo, este último mais comum em nossa Umbanda e explicitado pela cor deste Orixá, o vermelho. O branco também atribuído a Ogum mostra sua relação primordial com a Criação, enquanto impulso original de todo o criado.
O modelo do arquétipo demonstrado pelos filhos de Ogum é o das pessoas rebeldes, briguentas e impulsivas. Que perseguem energeticamente seus objetivos e não se desencorajam facilmente. Daquelas que nos momentos difíceis triunfam onde qualquer outro teria abandonado o combate e perdido toda a esperança. Possuem humor mutável, passando por furiosos acessos de raiva ao mais tranquilo dos comportamentos. É o arquétipo das pessoas impetuosas e arrogantes, que se arriscam a melindrar os outros por uma certa falta de discrição quando lhe prestam serviços, mas que, devido à sinceridade e franqueza de suas intenções, tornam-se difíceis de serem odiadas. Os filhos de Ogum nada temem, são atléticos, agressivos e de mau humor, conquistadores, rápidos, agem sem pensar, ofendem-se facilmente, insistem naquilo que desejam, emotivos, impacientes, brigões, arrependem-se facilmente, gostam de comer bem e de beber, temperamento difícil e com muita iniciativa. Os filhos de Ogum não podem ter vícios, principalmente com bebidas e drogas. Não conseguem falar manso, gostando das disputas até no falar. São práticos e não são egoístas, gostando de fazer doação de suas coisas. São apaixonados por viagens, mudanças de endereços, curiosos, adoram inovações tecnológicas. Ogum rege, no corpo humano, o sistema nervoso, as mãos, os pulsos e o sangue. As doenças mais associadas a Ogum são relacionadas às articulações, aparelho digestivo e fígado.
Ogum toma a vanguarda, vai na frente dos outros, o que precede, é o símbolo do primogênito que, através de sua agressão, abre o caminho para quem o segue. É um desbravador em todo o sentido do termo. Por estas características, anda e trabalha junto com Exu, indo na frente, abrindo caminho para Exu passar e trabalhar no Baixo Astral, nas zonas umbralinas, ajudando a combater o mal e defende os Exus dos ataques dos kiumbas nos locais sombrios. Assim, em toda firmeza para Exu, Ogum faz a ronda, também fazendo papel de guardião.
É o protetor dos militares e guerreiros. Tem ânsia de conquistas, mesmo que não tenha nenhuma estratégia, o que o difere de Xangô. Diz-se que Ogum não pede, Ele toma. Tem grande dificuldade de manter as suas conquistas. Ogum é um excelente executor de ideias; é impaciente, sincero, violento e brigão. Abre os caminhos junto com Exu. É objetivo. É o senhor das contendas sempre atacando pela frente, de peito aberto. Sabe armar arapucas para pegar o inimigo.
É o Senhor dos objetos cortantes e armas de fogo. Carrega a força de qualquer impacto, vibrando em todos os momentos impactantes. É o que ferve o sangue. Está presente no calor das coisas, principalmente no fogo. É a força instintiva de Marte, sendo este o planeta regente desse Orixá. Padroeiro de todos aqueles que manejam o ferro, como lanterneiros, maquineiros e ferreiros. Ogum é o símbolo do trabalho, da atividade de criação e expansão.
Seu dia é 23 de abril. Na Umbanda é sincretizado com São Jorge. Seu dia da semana é a terça-feira e suas cores são o vermelho e branco. Seus domínios são as estradas, encruzilhadas, cachoeiras e o mar. Seu Amalá é a feijoada feita de feijão fradinho ou feijão vermelho.