Fonte: Pai Maneco
Blog da Casa de Caridade Luz Divina - dirigente espiritual Vovó Luiza
6 de abril de 2011
Influências dos Orixás nas pessoas
Para definir bem a influência dos orixás nas pessoas vou contar uma estória: "Duas pessoas brigando. Passando um filho de Ogum , ou ele passa direto e nem olha, ou já vai se meter na briga. Um filho de Xangô para, fica olhando, e já começa a reclamar: Coitado do baixinho! Por que será esta briga? Acho que aquele alto não tem razão. E pior, nem sabe brigar. É um fraco. E fica questionando. Um filho de Oxossi para, senta no chão e, rindo, fica assistindo e se deleitando com a briga. Uma filha de Iemanjá chamaria os dois, colocaria suas cabeças em seu colo e os acalmaria recomendando paz. Uma filha de Iansã já reclamaria e chamaria a polícia. Uma filha de Oxum, nada faria, além de chorar".
História de Maria Mulambo
"Por volta de 1818 eu nasci. Meu nome é Maria Rosa da Conceição, sou filha de um fazendeiro em Alagoas. Cresci na fazenda de meu pai, e me apaixonei pelo capataz da fazenda, e acabamos nos encontrando escondido de meu pai. Aos 19 anos, fui prometida para o filho de um outro fazendeiro. Mas sem amá-lo e amando profundamente o capataz da fazenda, resolvi fugir para Pernambuco.
Meu pai mandou nos perseguir e um dia fomos encontrados pelo novo capataz de meu pai e alguns jagunços. Vi meu marido ser morto por golpes de facão e eu fui violentada e humilhada por todos que estavam ali e levada de volta para meu pai com minha filha recém nascida.
Meu pai me humilhou e com uma expressão de muito orgulho cuspiu no meu rosto e no de minha filha e nos expulsou. Não tive medo de enfrentar a vida, mas minha filha não merecia este tipo de vida. Resolvi fugir novamente para Pernambuco e pedir amparo para minha filha aos meus tios.
Eles me receberam não como sobrinha, mas como serviçal e fui novamente muito humilhada e agredida, sendo que suportei em nome de minha filha. Vi minha filha ainda muito pequena, que mal engatinhava, morrer de varíola. Aí fugi novamente. Agora sozinha e sem amparo, não tive alternativa a não ser me entregar a prostituição.
Nessa vida de orgias, muita bebida e fumo, acabei por pegar tuberculose e muitas doenças venéreas. Passei a ser rejeitada até pelas prostitutas do lugar e as pessoas, sempre que me viam nas vielas, passaram a me chamar por puro escárnio de Maria Mulambo.
Os anos se passaram e fui encontrada pelos meus irmãos, mas já era muito tarde.
Em um de meus últimos suspiros, fui visitada e amparada por um espírito bondoso... Maria Padilha - a qual estou ligada até hoje.
Sou Maria Mulambo. Desculpe, e fique em paz."
Fonte: Pai Maneco
A função do Congá
O Congá é o mais potente aglutinador de forças dentro do terreiro: é atrator, condensador, escoador, expansor, transformador e alimentador dos mais diferentes tipos de energias e magnetismo. Existe um processo de constante renovação de axé que emana do Congá, como núcleo centralizador de todo o trabalho na Umbanda.
Cada vez que um consulente chega à sua frente e vibra em fé, amor, gratidão e confiança, renovam-se naturalmente os planos espiritual e físico, numa junção que sustenta toda a consagração dos Orixás na Terra, na área física do templo.
As funções do Congá:
Atrator: atrai os pensamentos que estão à sua volta num amplo magnetismo de recepção das ondas mentais emitidas. Quanto mais as imagens e elementos dispostos no altar forem harmoniosos com o Orixá regente do terreiro, mais é intensa essa atração. Congá com excessos de objetos dispersa suas forças.
Condensador: condensa as ondas mentais que se “amontoam” ao seu redor, decorrentes da emanação psíquica dos presentes: palestras, adoração, consultas, etc.
Escoador: se o consulente ainda tiver formas-pensamentos negativas, ao chegar na frente do Congá, elas serão descarregadas para a terra, passando por ele (o Congá) em potente influxo, como se fosse um pararraios.
Expansor: expande as ondas mentais positivas dos presentes; associadas aos pensamentos dos guias e entidades que as potencializam, são devolvidas para toda a assistência num processo de fluxo e refluxo constante.
Transformador: funciona como uma verdadeira usina de reciclagem de lixo astral, devolvendo-o para a terra.
Alimentador: é o sustentador vibratório de todo o trabalho mediúnico, pois junto dele fixam-se no Astral os mentores dos trabalhos que não incorporam.
Veja, todo o trabalho na Umbanda gira em torno do Congá. A manutenção da disciplina, do silêncio, do respeito, da hierarquia, do combate à fofoca e aos melindres deve ser uma constante dos zeladores (dirigentes).
Nada adianta um Congá todo enfeitado, com excelentes materiais, se a harmonia do corpo mediúnico estiver destroçada; é como tocar um violão com as cordas arrebentadas.
Caridade sem disciplina é perda de tempo. Por isso, para a manutenção da força e do axé de um Congá devemos sempre ter em mente que ninguém é tão forte como todos juntos.
Fonte: Umbanda pé no chão
O porquê do ritual na Umbanda
"O ritual do terreiro é preciso para ordenamento dos trabalhos. As formas cultuadas servem de apoios mentais, que vos levam a firmar os pensamentos em breves instantes, auxiliando-nos para o rebaixamento vibratório das energias dos Orixás ao qual viemos apoiados para fazermos a caridade na Terra. A disciplina externa deve estar casada com a ordem interna dos médiuns, sendo o templo de fora um reflexo da 'igreja' de dentro de cada criatura que comparece a sessão da noite em que serão atendidas centenas entre encarnados e desencarnados. A harmonia, ou como vocês dizem na Terra, o ponto de equilíbrio, é alcançado na superação das fragilidades individuais, sustentada no esforço intencional de servir ao próximo, renovado em cada encontro semanal. A vontade alicerçada no livre arbítrio e no amor incondicional ao semelhante e para com o Sagrado é a maior fortaleza de cada um na caminhada em prol da evolução individual, sendo Jesus o maior exemplo desta disposição interna." (Caboclo Pery)
O homem encarnado tem dificuldade de se concentrar. Por este motivo há necessidade do ritual, pois os gestos, palavras, movimentos e sons que caracterizam um ritual, de valor simbólico previamente conhecido dos participantes do rito, repetido com regularidade, em intervalos que se repetem, favorecem a concentração e criam um condicionamento mental individual e coletivo que propicia um automatismo salutar na sintonia mediúnica. Por exemplo, diante do ponto cantado da entidade, quando o médium está concentrado e com o pensamento limpo, imediatamente ocorre a incorporação mediúnica.
Um ritual é uma forma de organização, um método sistematizado, que objetiva disciplinar e dar uniformidade aos pensamentos através de estímulos sensórios externos que são interiorizados no psiquismo. A repetição metódica e regular dos cânticos, a visão das imagens em comum a todos os componentes do terreiro, dispostos de frente para o congá; os atabaques, os cheiros, a defumação, as cores, os movimentos repetitivos, tudo isto favorece o condicionamento anímico e a entrega passiva dos médiuns que darão sustentação à corrente, fortalecendo o intercâmbio mediúnico.
Na Umbanda, existem vários tipos de rituais, pois isto depende do pai ou mãe de santo do terreiro. Variam diante da necessidade espiritual do grupo de trabalho e dos frequentadores da casa - isto sem falar dos dirigentes da casa que gostam de enfeitar e inventar coisas que não existem na Umbanda, ou misturar com outros cultos que conheceu - mas isto é outro assunto.
O ritual tem, ainda, aspecto social porque une os seus praticantes na orbe do respeito e cumplicidade, além de estreitar os laços de amizade.
Um terreiro de Umbanda é um local sagrado para o culto aos Orixás. Entidades espirituais que estão presentes precisam de um ambiente magnetizado positivamente para a fixação e manutenção de suas energias no local; o espaço físico-astral, consagrado pela fé e confiança dos frequentadores, tanto da assistência como do corpo mediúnico que se confunde num só, sendo o lado daqui (plano material, plano físico) uma consequência do lado de lá (plano espiritual), que geralmente é bem mais amplo. Serve para a invocação, evocação e ligação mediúnica com as entidades que se apresentam para a realização dos trabalhos de caridade.
Portanto, meus filhos, o ritual é importante para todos, pois ajuda os encarnados a se concentrarem nos trabalhos, e a concentração correta é o remédio preventivo contra os espíritos trevosos ou trapalhões que, por acaso, queiram atrapalhar os trabalhos...
Efeitos da Defumação
Durante a queima de ervas odorantes desprendem-se energias ocultas, potencializadas no éter vegetal e que podem afastar os maus fluidos do ambiente onde atuam. Sem dúvida, seria absurdo alguém mobilizar fumaça de ervas para limpar paredes, abrir janelas ou descascar batatas. Mas não é insensato a fumaça afastar, dispersar fluídos nocivos, obediente à mesma lei de correspondência vibratória, que permite ao homem-matéria acomodar-se numa cadeira material e o espírito desencarnado sentar o seu corpo astral numa cadeira confeccionada de substância astralina.
Desde o instante em que as ervas principiam a germinar no seio da terra até o momento em que são colhidas, elas extraem do solo toda a sorte de minerais, vitaminas, proteínas, sais químicos e umidade, além de imantadas pelos raios solares, eflúvios elétricos e magnéticos provindos da própria Lua, além de impregnados do ectoplasma terráqueo, supercarregadas de éter-físico, prana e da energia vigorosa que é o fogo “kundalíneo”.
Algumas plantas são fontes prodigiosas de utilidades benfeitoras à humanidade, já na sua contextura física, como é a carnaubeira, vegetal da família das palmáceas. O homem pode extrair dela: açúcar, sal, álcool, ração para o gado, madeira para habitação, combustível para iluminar, resina para cola, medicamento para sífilis, úlceras, erupções e reumatismo. São mais de 40 utilidades já catalogadas nessa planta maravilhosa, cujo poder e serventia, considerados apenas no campo físico, ainda prolongam-se pelo mundo etéreo-astralino, num campo de forças incomuns! Enfim, todo o potencial que se elabora no seio da planta, durante os meses de sua vivência no solo seivoso da terra, depois é liberto em alguns minutos na defumação, projetando em torno um potencial de forças, que, além de sua manifestação propriamente física, ainda desagregam miasmas e bacilos astralinos disseminados no ambiente humano.
A queima de ervas defumadoras também obedece a uma determinada disciplina mental ou concentração, atraindo a cooperação de espíritos de pretos-velhos, caboclos e bugres, simpáticos a tal processo tradicional de defesa psíquica, os quais ajudam a amenizar na limpeza das pessoas enfeitiçadas. Considerando que a matéria é energia condensada em “descida” vibratória do mundo oculto, a defumação representa uma operação inversa ou liberação de energias, as quais passam a repercutir novamente nos planos etéricos e astralinos de onde se originaram. O perfume, ou a exalação natural das plantas, também age na emotividade e na mente do ser, pois o seu odor associa ideias e reminiscências místicas, conforme acontecia nos templos iniciáticos do Egito, da Grécia, Índia e Caldéia. A defumação composta de incenso, sândalo e mirra, tão tradicional e estimulante para o espírito, que produzia uma condição receptiva e inspirativa simultaneamente nos planos físico, astral e etéreo, ainda hoje é uma espécie de bálsamo espiritual.
Há certos tipos de ervas cuja reação etérica é tão agressiva e incômoda, que torna o ambiente indesejável para certos espíritos, assim como os encarnados afastam-se dos lugares saturados de enxofre ou gás metano dos charcos. Aliás, as máscaras contra gases provam suficientemente quanto à existência de certas fumacinhas que também podem aniquilar os seres humanos! Há perfumes que inebriam determinadas pessoas, mas causam cefaléias, tonturas e até náuseas noutras criaturas. O odor ácido e picante do alho e da cebola, que aguça o apetite nas saladas das churrascarias, depois é detestado pela produção do mau hálito. Durante a queima de ervas produzem-se reações agradáveis ou desagradáveis no mundo oculto, porque, além de sua propriedade física, elas também libertam outras energias provenientes do armazenamento do éter e do magnetismo físico no duplo etérico do vegetal. O cheiro ou a exalação das ervas e flores que afetam o olfato dos encarnados também é um campo vibratório. Cada espécie vegetal no mundo possui a sua característica fundamental e atende a uma necessidade na Criação. A mesma seiva venenosa da cicuta, que mata, hoje serve benfeitoramente na medicina homeopática, curando convulsões, estrabismo, efeitos de comoção no cérebro ou da espinha.
Deus não criou as espécies vegetais apenas como enfeites do mundo, pois elas atendem simultaneamente às necessidades da vida manifesta no plano físico, etéreo e astralino.
Fonte: "Magia de Redenção"
Diálogo entre Exu e Oxalá
O céu e a terra fundiam-se no horizonte distante, parecendo uma coisa só, como se não houvesse separação entre o mundo espiritual e o material, a consciência individual e a cósmica.
Sentado sobre uma pedra em uma enorme montanha, de cabeça baixa e olhos apenas entreabertos, Exu observava o fenômeno da natureza e refletia sobre o seu interminável trabalho.
Como é difícil a humanidade – pensou em certo momento – parece nunca estar satisfeita, está sempre querendo mais e, em sua essência egoísta, desarmoniza tudo, tudo... Tudo que era para ser tão simples acaba tão complicado!
Com os olhos habituados a enxergar na escuridão e na distância, Exu observou cada canto daqueles arredores. Viu pessoas destruindo a si mesmas através de vícios variados, viu maldades premeditadas e outras praticadas como se fossem atos da mais perfeita normalidade. Viu injustiças, principalmente contra os mais fracos e indefesos. Com seus ouvidos, também atentos a tudo, ouviu mentiras, palavras de maledicência, gritos de ódio e sussurros de traição.
Exu suspirou.
Serei eu o diabo da humanidade? – pensou ironicamente, ao lembrar o quanto era associado à figura do demônio. Passou horas observando coisas que estava habituado a ver todos os dias: mentiras, fraudes, corrupção, traições, inveja e uma gama enorme de sentimentos negativos.
Foi quando estava imerso nesses pensamentos que Exu ouviu uma voz ao seu lado, dizendo naquele tom austero, porém complacente:
- "Laroyê, Senhor Falante"!
Exu ergueu os olhos e vislumbrou a figura altiva de Oxalá.
- "Epa Babá!" – respondeu Exu, fazendo um pequeno movimento com a cabeça, em sinal de respeito.
- "Noto que está pensativo, amigo Exu" – falou Oxalá.
Exu respirou fundo, contemplou novamente o horizonte e respondeu:
- "Trabalhamos tanto... e incansavelmente, mas os homens parecem não valorizar nosso esforço..."
Oxalá moveu os lábios para dizer algo, mas antes que isso acontecesse, Exu, como que prevendo o que seria dito, continuou:
- "Não falo em tom de reclamação, sou um trabalhador incansável e o amigo sabe disso. É com prazer que levo o que tem ser levado e retiro o que deve ser retirado. É com satisfação que abro ou fecho os caminhos, de acordo com a necessidade de cada um, é com resignação que acolho sobre minhas costas largas a culpa do mal que muitos espíritos encarnados e desencarnados fazem, não reclamo do meu trabalho. Sou Exu, para mim não existe frio ou calor, cansaço ou preguiça, existe apenas a necessidade de cumprir a tarefa para qual fui designado".
- "Se mostra tão resignado e, no entanto, parece que deixa-se abater pelo desânimo" – comentou Oxalá, apoiando-se em seu paxorô.
Exu soltou uma gargalhada, ao que Oxalá deu um leve sorriso, com um movimento quase imperceptível no canto direito dos lábios.
- "Não sou resignado nem tampouco estou desanimado" – falou Exu – "estou pensativo sobre pouca inteligência dos homens. Veja só: como responsável pela aplicação da Lei Cármica observo muita coisa. Observo não apenas o sofrimento que alguns homens impõem a si mesmos, mas vejo também as incessantes oportunidades que o nosso Pai, Zambi, dá a cada um dos seres que habitam a Terra. O aprendizado que tanto precisam lhes é dado por bem, mas quase nunca enxergam pelo amor, então lhes é dada a oportunidade de aprender pela dor, mas geralmente só lembram a lição enquanto a dor está a alfinetar sua carne. Com o alívio vem o esquecimento e todos os erros e vícios voltam a aflorar".
Oxalá fez menção de dizer algo, mas com o dedo em riste entre os lábios, novamente Exu o impediu de falar.
- "Ouça" – disse Exu, colocando a mão em concha na orelha, como se ele e Oxalá precisassem disso para ouvir melhor. E ambos ouviram o som que vinha da Terra. "O som da inveja, dos maus sentimentos, da maledicência, da promiscuidade, da ganância". Exu deu outra gargalhada e disse:
- "Percebe? Temos trabalho por muitos séculos ainda".
- "E isso não é bom?" – perguntou Oxalá, que dessa vez não deixou Exu responder e continuou:
- "Pobres homens, ignorantes da própria grandeza espiritual e da simplicidade do Universo. Se não desconhecessem tanto o funcionamento das coisas, seriam mais felizes".
- "Não estão preocupados em discernir o bem do mal" – resmungou Exu.
Sentado sobre uma pedra em uma enorme montanha, de cabeça baixa e olhos apenas entreabertos, Exu observava o fenômeno da natureza e refletia sobre o seu interminável trabalho.
Como é difícil a humanidade – pensou em certo momento – parece nunca estar satisfeita, está sempre querendo mais e, em sua essência egoísta, desarmoniza tudo, tudo... Tudo que era para ser tão simples acaba tão complicado!
Com os olhos habituados a enxergar na escuridão e na distância, Exu observou cada canto daqueles arredores. Viu pessoas destruindo a si mesmas através de vícios variados, viu maldades premeditadas e outras praticadas como se fossem atos da mais perfeita normalidade. Viu injustiças, principalmente contra os mais fracos e indefesos. Com seus ouvidos, também atentos a tudo, ouviu mentiras, palavras de maledicência, gritos de ódio e sussurros de traição.
Exu suspirou.
Serei eu o diabo da humanidade? – pensou ironicamente, ao lembrar o quanto era associado à figura do demônio. Passou horas observando coisas que estava habituado a ver todos os dias: mentiras, fraudes, corrupção, traições, inveja e uma gama enorme de sentimentos negativos.
Foi quando estava imerso nesses pensamentos que Exu ouviu uma voz ao seu lado, dizendo naquele tom austero, porém complacente:
- "Laroyê, Senhor Falante"!
Exu ergueu os olhos e vislumbrou a figura altiva de Oxalá.
- "Epa Babá!" – respondeu Exu, fazendo um pequeno movimento com a cabeça, em sinal de respeito.
- "Noto que está pensativo, amigo Exu" – falou Oxalá.
Exu respirou fundo, contemplou novamente o horizonte e respondeu:
- "Trabalhamos tanto... e incansavelmente, mas os homens parecem não valorizar nosso esforço..."
Oxalá moveu os lábios para dizer algo, mas antes que isso acontecesse, Exu, como que prevendo o que seria dito, continuou:
- "Não falo em tom de reclamação, sou um trabalhador incansável e o amigo sabe disso. É com prazer que levo o que tem ser levado e retiro o que deve ser retirado. É com satisfação que abro ou fecho os caminhos, de acordo com a necessidade de cada um, é com resignação que acolho sobre minhas costas largas a culpa do mal que muitos espíritos encarnados e desencarnados fazem, não reclamo do meu trabalho. Sou Exu, para mim não existe frio ou calor, cansaço ou preguiça, existe apenas a necessidade de cumprir a tarefa para qual fui designado".
- "Se mostra tão resignado e, no entanto, parece que deixa-se abater pelo desânimo" – comentou Oxalá, apoiando-se em seu paxorô.
Exu soltou uma gargalhada, ao que Oxalá deu um leve sorriso, com um movimento quase imperceptível no canto direito dos lábios.
- "Não sou resignado nem tampouco estou desanimado" – falou Exu – "estou pensativo sobre pouca inteligência dos homens. Veja só: como responsável pela aplicação da Lei Cármica observo muita coisa. Observo não apenas o sofrimento que alguns homens impõem a si mesmos, mas vejo também as incessantes oportunidades que o nosso Pai, Zambi, dá a cada um dos seres que habitam a Terra. O aprendizado que tanto precisam lhes é dado por bem, mas quase nunca enxergam pelo amor, então lhes é dada a oportunidade de aprender pela dor, mas geralmente só lembram a lição enquanto a dor está a alfinetar sua carne. Com o alívio vem o esquecimento e todos os erros e vícios voltam a aflorar".
Oxalá fez menção de dizer algo, mas com o dedo em riste entre os lábios, novamente Exu o impediu de falar.
- "Ouça" – disse Exu, colocando a mão em concha na orelha, como se ele e Oxalá precisassem disso para ouvir melhor. E ambos ouviram o som que vinha da Terra. "O som da inveja, dos maus sentimentos, da maledicência, da promiscuidade, da ganância". Exu deu outra gargalhada e disse:
- "Percebe? Temos trabalho por muitos séculos ainda".
- "E isso não é bom?" – perguntou Oxalá, que dessa vez não deixou Exu responder e continuou:
- "Pobres homens, ignorantes da própria grandeza espiritual e da simplicidade do Universo. Se não desconhecessem tanto o funcionamento das coisas, seriam mais felizes".
- "Não estão preocupados em discernir o bem do mal" – resmungou Exu.
- "E você está, Senhor Falante?" – tornou Oxalá.
Mais uma vez Exu gargalhou.
- "Para mim não existe o bem ou o mal. Existe o justo, bem sabe disso"...
- "Então por que tenta exigir esse discernimento dos pobres homens?"
- "Eu conheço os caminhos" – respondeu Exu um tanto irritado – "para mim não existem obstáculos, todos os caminhos se abrem em encruzilhadas. Para mim, as portas nunca se fecham e as correntes nunca prendem. Conheço o sutil mistério que separa aquilo que chamam de bem daquilo que chamam de mal. Não sou maniqueísta, não sou benevolente, pois não dou a quem não merece, mas também não sou cruel, pois sempre ajo dentro da Lei. Os homens, coitados, acreditam na visão simplista do bem e do mal, como se todo o Universo, em sua “complexa simplicidade” se resumisse apenas entre o bem e o mal".
- "Pobres homens" – repetiu Oxalá.
- "Pobres homens" – concordou Exu – "mesmo olhando o Universo de uma forma tão simplista, dividido apenas entre bem e mal, acabam sempre demonizando tudo, achando que o mal é o melhor caminho para conseguir o que desejam ou, então, acreditam que são eternas vítimas do mal. E o que é pior, quase sempre eu é que sou o culpado..."
Mais uma vez Exu gargalhou.
- "Para mim não existe o bem ou o mal. Existe o justo, bem sabe disso"...
- "Então por que tenta exigir esse discernimento dos pobres homens?"
- "Eu conheço os caminhos" – respondeu Exu um tanto irritado – "para mim não existem obstáculos, todos os caminhos se abrem em encruzilhadas. Para mim, as portas nunca se fecham e as correntes nunca prendem. Conheço o sutil mistério que separa aquilo que chamam de bem daquilo que chamam de mal. Não sou maniqueísta, não sou benevolente, pois não dou a quem não merece, mas também não sou cruel, pois sempre ajo dentro da Lei. Os homens, coitados, acreditam na visão simplista do bem e do mal, como se todo o Universo, em sua “complexa simplicidade” se resumisse apenas entre o bem e o mal".
- "Pobres homens" – repetiu Oxalá.
- "Pobres homens" – concordou Exu – "mesmo olhando o Universo de uma forma tão simplista, dividido apenas entre bem e mal, acabam sempre demonizando tudo, achando que o mal é o melhor caminho para conseguir o que desejam ou, então, acreditam que são eternas vítimas do mal. E o que é pior, quase sempre eu é que sou o culpado..."
- "Mas é você o responsável pelo mal?" – perguntou Oxalá, admirando o horizonte.
- "Sou justo, apenas isso" – respondeu Exu.
- "Não seria a justiça uma prerrogativa de Xangô?" – tornou o maior dos orixás.
Exu olhou fundo nos olhos de Oxalá e respondeu:
- "Estou à serviço do Universo, de cada uma das forças que o compõe, inclusive do Senhor da Justiça".
- "Isso significa que trabalha em harmonia com o Universo, caro Exu?"
- "Sou justo, apenas isso" – respondeu Exu.
- "Não seria a justiça uma prerrogativa de Xangô?" – tornou o maior dos orixás.
Exu olhou fundo nos olhos de Oxalá e respondeu:
- "Estou à serviço do Universo, de cada uma das forças que o compõe, inclusive do Senhor da Justiça".
- "Isso significa que trabalha em harmonia com o Universo, caro Exu?"
- "Imaginei que soubesse disso" – respondeu Exu, irônico como sempre.
- "Acho que sempre soube. Quando observo o horizonte e vejo o céu fundindo-se à Terra, percebo o quanto o material pode estar ligado ao espiritual. Mas também lembro que o sol vai raiar e acredito que apesar de todas as dificuldades que os próprios homens criam, é possível acender a chama da fé em seus corações. Percebo o quanto eles são falhos, mas percebo também o quanto são frágeis e precisam de nós" – e nesse momento pousou a mão sobre o ombro de Exu – "sejam dos que trabalham na luz ou na escuridão, pois tudo faz parte do Uno e se interrelacionam. O mesmo homem que hoje está nas profundezas mais abissais, amanhã pode ser o mensageiro da luz".
- "Acho que sempre soube. Quando observo o horizonte e vejo o céu fundindo-se à Terra, percebo o quanto o material pode estar ligado ao espiritual. Mas também lembro que o sol vai raiar e acredito que apesar de todas as dificuldades que os próprios homens criam, é possível acender a chama da fé em seus corações. Percebo o quanto eles são falhos, mas percebo também o quanto são frágeis e precisam de nós" – e nesse momento pousou a mão sobre o ombro de Exu – "sejam dos que trabalham na luz ou na escuridão, pois tudo faz parte do Uno e se interrelacionam. O mesmo homem que hoje está nas profundezas mais abissais, amanhã pode ser o mensageiro da luz".
Exu olhou para os olhos de Oxalá, como se não estivesse concordando, mas dessa vez foi Oxalá quem não deixou que o outro falasse, prosseguindo com sua narrativa:
- "Se não fossem os valorosos guardiões que trabalham nas regiões trevosas, dificilmente os que ali sofrem um dia alcançariam o benefício da luz. Se houvesse apenas a luz, não haveria o aprendizado, que tem como ponto de partida o desconhecimento, as trevas. O Universo tão simples é ao mesmo tempo tão inteligente, que mesmo nós, que observamos os homens a uma distância grande, às vezes nos surpreendemos com sua magnitude. Os homens são frutos que precisam amadurecer e você, amigo Exu, é a estufa que os aquece até o ponto certo da maturação e eu sou a mão que os colhe como frutos amadurecidos".
- "Quem diria que trabalhamos em harmonia?" – disse Exu em meio a um sorriso – "acreditam que vivemos a digladiar quando na verdade trabalhamos em busca de um mesmo objetivo: o aprimoramento da raça humana"!
- "Se não fossem os valorosos guardiões que trabalham nas regiões trevosas, dificilmente os que ali sofrem um dia alcançariam o benefício da luz. Se houvesse apenas a luz, não haveria o aprendizado, que tem como ponto de partida o desconhecimento, as trevas. O Universo tão simples é ao mesmo tempo tão inteligente, que mesmo nós, que observamos os homens a uma distância grande, às vezes nos surpreendemos com sua magnitude. Os homens são frutos que precisam amadurecer e você, amigo Exu, é a estufa que os aquece até o ponto certo da maturação e eu sou a mão que os colhe como frutos amadurecidos".
- "Quem diria que trabalhamos em harmonia?" – disse Exu em meio a um sorriso – "acreditam que vivemos a digladiar quando na verdade trabalhamos em busca de um mesmo objetivo: o aprimoramento da raça humana"!
Oxalá só não soltou uma gargalhada porque não era esse seu hábito (e sim o de Exu), mas disse sem conseguir esconder o contentamento:
- "Então, companheiro Exu, não temos porque lamentar. A ignorância em que vivem os homens é sinal de que ainda temos trabalho a realizar. A pouca sabedoria que possuem significa que ainda estão muito próximos ao ponto de partida e cabe a nós, não importa se chamados de “direita” ou “esquerda”, auxiliá-los em sua caminhada, que é muito longa ainda. Apenas contemplar as mazelas dos corações humanos não irá auxiliá-los em nada. Sou a luz que guia os olhos da humanidade e você é o movimento que não a deixa estática. Se pararmos por um segundo sequer, atrasaremos em séculos e séculos o progresso da raça humana, que tanto depende de nós."
Nesse momento o sol começou a raiar timidamente no horizonte, separando o céu e a Terra. Exu levantou-se da sua pedra e se pôs a caminhar montanha abaixo.
- "Aonde vai, Senhor Falante?" – perguntou Oxalá, como se não soubesse.
- "Vou trabalhar, Senhor dos Orixás" – respondeu Exu gargalhando novamente – "Esqueceu que sou um trabalhador incansável e que trabalho em harmonia com o Universo, mesmo que ele me imponha a luz do sol?"
Nesse momento o sol começou a raiar timidamente no horizonte, separando o céu e a Terra. Exu levantou-se da sua pedra e se pôs a caminhar montanha abaixo.
- "Aonde vai, Senhor Falante?" – perguntou Oxalá, como se não soubesse.
- "Vou trabalhar, Senhor dos Orixás" – respondeu Exu gargalhando novamente – "Esqueceu que sou um trabalhador incansável e que trabalho em harmonia com o Universo, mesmo que ele me imponha a luz do sol?"
Oxalá não respondeu, mas esboçou um sorriso tímido.
Assim trabalha o Universo feito por Zambi: sempre em harmonia. Os homens, mesmo ainda presos a tantos conceitos primários, trilham em direção ao progresso, pois não estão órfãos de seus Orixás e Protetores.
Fonte: Templo Tião D'angola e Boiadeiro Sete Porteiras.
Atributos de Iansã - Orixá regente de 2011
Atributo: Movimento e mudança.
Aspectos Negativos: possessividade; rancor; impulsividade - agir sem pensar; a franqueza que machuca; a impaciência e a irritação.
Corresponde à necessidade de mudança, de deslocamento, transformações materiais, avanços tecnológicos e intelectuais. A luta contra as injustiças. A mente é inconstante e rápida de raciocínio.
Os aspectos psicológicos das filhas de IANSÃ: podem ser irriquietas, por terem muita agilidade mental, o que ocasiona um mundo de ideias e deixa os pensamentos rápidos demais, iguais a raios. O psiquismo dos filhos de IANSÃ é propenso à educação, à oralidade, à orientação. Não se prendem a tarefas rotineiras e repetitivas. Precisam colocar em prática a sua garra e impetuosidade diante do novo, como as nuvens nos céus que mudam constantemente o formato, se moldando aos ventos.
Aspectos Positivos: coragem; lealdade e franqueza, fluidez de raciocínio; propicia a higienização mental; flexibilidade (jogo de cintura), facilidade de falar. Talento artístico; charme e sensualidade.
Aspectos Positivos: coragem; lealdade e franqueza, fluidez de raciocínio; propicia a higienização mental; flexibilidade (jogo de cintura), facilidade de falar. Talento artístico; charme e sensualidade.
Aspectos Negativos: possessividade; rancor; impulsividade - agir sem pensar; a franqueza que machuca; a impaciência e a irritação.
Fonte: "Umbanda Pé no Chão"
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