Blog da Casa de Caridade Luz Divina - dirigente espiritual Vovó Luiza

5 de novembro de 2016

Conhecendo um pouco mais sobre os Orixás regentes de 2017

Oxossi

Orixá das matas, alegre, jovial, expansivo e irrequieto. Oxossi é o Orixá que revela a importância da caça entre os povos africanos, com reflexos no culto religioso, lembrando que antigamente na África os caçadores eram os responsáveis pelo sustento e manutenção das aldeias.

Sendo um caçador, é o Orixá que garante a fartura, o sustento, a alimentação e a prosperidade ao ser humano. Em seu lado negativo, porém, pode ser também o pai da míngua e da falta de provisão. Muitas vezes é chamado de “Caçador dos Céus”.

Na Umbanda, Oxossi é patrono da linha dos Caboclos, uma das mais ativas da religião e recebe o título de Rei das Matas. Oxossi é caçador por excelência, mas sua busca visa o conhecimento, logo, é o cientista e o doutrinador, que traz o alimento da fé e o saber aos espíritos fragilizados tanto nos aspectos da fé quanto do saber religioso.

Oxossi é a busca, é a procura, é a curiosidade, é o movimento contínuo na evolução dos seres, na apresentação de novos conhecimentos e de novos horizontes. Simbolicamente representamos Oxossi com sete setas que são as sete buscas contínuas do ser. Oxossi expande, irradia e impele os seres.

Data festiva: 20 de janeiro

Saudação: Okê Arô! (Salve o Grande Caçador!)

Sincretismo religioso:
São Sebastião

Cores: Verde (e alguns tipos de Umbanda, é verde, branco e vermelho)

Ponto de força: Matas


Oxum

É a força dos rios que correm sempre adiante, levando e distribuindo pelo mundo sua água que mata a sede. É a Mãe da água doce, Rainha das cachoeiras, Deusa da candura e da meiguice.

Orixá da prosperidade e da riqueza interior, ela é a manifestação do Amor. O amor puro, real, maduro, solidificado, sensível e incondicional, por isso é associada à maternidade e ligada ao desenvolvimento da criança ainda no ventre da mãe, da mesma maneira que Iemanjá.

A regência de Oxum se dá no processo de fecundação, na multiplicação da célula mater. É Oxum quem gera o nascimento de novas vidas que estarão no período de gestação numa bolsa de água – como ela, Oxum, rainha das águas.

É Oxum que “tomará conta” até o nascimento, quando, então, entrega à Iemanjá, que será responsável pelo destino daquela criança. Oxum não vê defeitos nos seus filhos. Os seus filhos são verdadeiras joias e ela só consegue ver o seu brilho. É por isso que Oxum é a mãe das crianças, seres inocentes e sem maldade, zelando por elas desde o ventre até que adquiram a sua independência.

Como acontece com as águas, nunca se pode prever o estado em que encontraremos Oxum; como também não podemos segurá-la em nossas mãos. Assim, Oxum é o ardil feminino, considerada a deusa do amor, a Vênus africana. O casamento, o ventre, a fecundidade e as crianças são de Oxum, assim como, talvez por consequência, a felicidade.

De menina-moça faceira, passando pela mulher irresistível até a senhora protetora, Oxum é sempre dona de uma personalidade forte, que não aceita ser relegada a segundo plano, afirmando-se em todas as circunstâncias da vida. Oxum é o amor, é a capacidade de sentir amor.

Ela é o elo que une os seres sob uma mesma crença, trazendo a união espiritual. É o elo que une dois seres sob o mesmo amor, agregando-os onde se dá inicio à concepção de uma nova vida. Ela é quem agrega os bens materiais que torna um ser rico, portanto, é conhecida como Orixá da riqueza, Senhora do ouro e das pedras preciosas.

Essa doçura de encanto feminino, porém, não revela a Orixá por inteiro. Pois ela é também guerreira intrépida e lutadora pertinaz. Como as águas dos rios, a força de Oxum vai a todos os cantos da terra. Ela dá de beber aos animais e plantas de Oxossi, esfria o aço forjado por Ogum, lava as feridas de Obaluaê. Oxum está em tudo, pois, se amamos algo ou alguém é porque ela está dentro de nós.

Data festiva:
08 de dezembro

Saudação:
Ora ie iê!
Ai iê ieu Mamãe Oxum (Salve Senhora da Bondade e da Benevolência)

Símbolo:
Um coração (do qual nasce um rio).

Sincretismo religioso:
Nossa Senhora da Conceição

Cor: Azul royal (e alguns tipos de Umbanda, a cor é Amarelo dourado; e no Candomblé é cor de Rosa)

Instrumento:
Abebé (um leque em forma circular dourado ou feito em latão que traz um espelho no centro)

Ponto de força:
Cachoeiras e rios

24 de outubro de 2016

Orixás regentes de 2017


O ano de 2016 foi regido por Oxalá, trazendo a abertura e a clareza, onde as máscaras foram rasgadas e arrancadas, aparecendo a verdade.

Conforme a Vovó Luiza de Guiné, o próximo ano, 2017, terá dupla regência: Oxossi e Oxum, com predominância de Oxossi.

Oxossi é o Orixá da fartura, do conhecimento, da disciplina e da Ciência. Oxossi traz a fome do saber, a vontade de evoluir; sendo assim, 2017 será um ano bem racional e muito propenso para começar e até mesmo retomar estudos, cursos e especializações.

O ano de Oxossi será um ano de novas descobertas, de retomada do progresso, do retorno dos empregos, do reinício do crescimento financeiro e de carreira, sem esquecer do crescimento espiritual, sendo um ano-chave para a evolução humana.

Como 2017 estará também sob regência de Oxum, esta trará mais amor, mais compreensão e principalmente mais paixão. A vida será e estará mais exaltada, devendo-se tomar cuidado com paixões furtivas e explosivas. Oxum também trará fortalecimento do laço familiar, das amizades e do companheirismo. Além de trazer um ano “molhado”, com chuvas frequentes e intensas.

Okê, Oxossi! Ora ie iê, Oxum!

Saravá!

21 de julho de 2016

Nanã Buruquê

Dia 26 de julho é o dia que, devido ao sincretismo com Santana, comemora-se na Umbanda o Orixá Nanã Buruquê.

Nanã é a divindade que, junto com Zambi, fez parte da criação; é a mais antiga de todos os Orixás, a mais velha e a mais respeitada. Historiadores afirmam que  Nanã “surge” anterior à Idade do Ferro, provocando uma relação “conturbada” com Ogum. É responsável pelo elemento barro, que deu forma ao primeiro homem e a todos os seres viventes da terra.

Segundo a lenda africana, quando Zambi, o ser Supremo, encarregou Oxalá de fazer o mundo e modelar o ser humano, Oxalá tentou vários caminhos. Tentou fazer o Homem de ar, como Ele. Não deu certo, pois o homem logo se desvaneceu. Tentou fazer de pau, mas a criatura ficou dura. De pedra, mas ainda a tentativa foi pior. Fez de fogo e o homem se consumiu. Tentou azeite, água e até vinho de palma, e nada. Foi então que Nanã veio em seu socorro e deu a Oxalá a lama, o barro do fundo da lagoa onde Ela morava, a lama sob as águas, que é Nanã. Oxalá criou o homem e o modelou no barro. Com o sopro de Zambi ele caminhou. Com a ajuda dos Orixás povoou a terra.
Com o barro, Nanã propicia o uso das cerâmicas, momento em que o homem começa a desenvolver a cultura.

Orixá que auxilia as passagens difíceis da vida, que pode trazer riquezas, assim como a miséria, é a própria evolução do Ser, o princípio, o meio e o fim; o nascimento, a vida e a morte. Nanã tanto rege a vida como a morte, pólos da mesma realidade.

Pertencem a Nanã os búzios, que simbolizam morte por estarem vazios e fecundidade porque lembram os órgãos genitais femininos, entretanto, o que a melhor sintetiza é o “grão”, pois, além de Nanã possuir domínio sobre a agricultura e desenvolvimento do homem, todo “grão” tem que morrer para germinar. Nanã é que dá nascimento às sementes permitindo transmutação e transformação contínua para que nada se perca.

Atributos: calma e misericórdia. Nanã é o momento inicial em que a água brota da terra ou da pedra. É a soberana de todas as águas; é também a lama, a terra em contato com a água; é o pântano, o lodo, sua principal morada e regência. Ela é a chuva, a tempestade, a garoa. Nanã é a mãe, boa, querida, carinhosa, compreensível e sensível; a senhora da passagem desta vida para a outra, comandando o portal mágico, a passagem das dimensões.
Este Orixá relembra a nossa ancestralidade mística, o momento em que fomos criados como espírito. A água foi necessária na Terra para a geração da vida, tendo o barro ou a lama um simbolismo correspondente ao momento em que fomos "feitos" pelo Pai. Assim, Nanã é considerada a Grande Mãe. Ela reconduz os espíritos desencarnados ao mundo espiritual, aconchegando-os em seus braços.

Tipo psicológico dos filhos de Nanã: os filhos deste Orixá podem ser tímidos e ao mesmo tempo serenos. Por vezes, são severos nos seus valores morais e austeros na educação da família. Não raro, são rabugentos, o que os fazem ser temidos. Geralmente não são sensuais e não se ligam às questões da sexualidade. Outras vezes, por medo de serem amados e virem a sofrer, se dedicam com afinco à profissão, sendo dispostos à ascensão social.
Quanto à calma e à lentidão que lhes são peculiares, nos momentos das decisões, acabam gerando conflitos com pessoas ativas e dinâmicas. Em equilíbrio, são pessoas bondosas, simpáticas, bonachonas e dignas de confiança.

Aspectos positivos: sensatez, perseverança, ordem, objetividade, paciência, respeitabilidade, calma. Sem pressa para realização, o tempo não os aflige. São benevolentes, gentis, mansos, como se fossem bons e amorosos avós.

Aspectos negativos: conservadorismo extremado, preguiça, avareza, indiferença, estupidez. Demorados, teimosos e rabugentos, adiam as decisões e podem ser vingativos.

Planeta: Lua, que é o regente do signo de câncer – ligação com as águas; junção da água das chuvas e solo barrento e pantanoso, demonstrando que precisam trabalhar o passado, libertando e deixando ir embora o que não serve mais.

Signo: escorpião, que é regido por Plutão – ligação com as águas paradas e profundas (o mangue), refletindo a expressão "eu calo" do escorpiano que observa e que é profundo no sentir os ambientes e a psiquê humana; possuem a capacidade de vivenciar a dor e o sofrimento e renascer mais forte, com maior capacidade de domínio sobre as próprias emoções.

Flores: hortênsia, sempre-viva roxa, crisântemo roxo, hibisco, violeta, orquídea roxa
Chacra: frontal
Dia da semana: sábado
Saudação: Saluba, Nanã!
Florais de Bach: Centaury, Hornbeam, Clematis e Willow
Mineral: ametista
Metal: ouro branco, estanho
Bebidas: champagne rosé, água mineral, água com mel
Animais: rã, pata branca
Comida: batata doce com mel, figo roxo, ameixa vermelha escura, amendoim torrado sem sal (partido ou farofa), purê de batata doce
Cor: roxo / lilás
Domínios: chuva, pântano, morte, lamaçal
Elementos: água e terra
Símbolo/ emblema: Iberim, búzios
Ervas: alfavaca, avenca, dinheiro em penca, folha da fortuna
Essências: guiné, noz moscada, cravo, camomila
Frutas: figo, ameixa, uva escura, jaca, fruta do conde
Função: criação e transformação
Doenças: erisipela, artrite, estomatite. Cuidar com multidões e instrumentos de metal
Morada: cemitério, pântano, lamaçal
Números: 6 e 13
Partes do corpo: barriga, útero, genitais feminino, protege mulheres gestantes

Oração para Nanã:
Senhora da renovação da vida
Mãe de toda criação
Orixá das águas paradas
Mãe da sabedoria
Dai-me a calma necessária para aguardar com paciência o momento certo para tomar minhas decisões.
Que a tua luz neutralize todas as forças negativas à minha volta.
Dai-me a tua serenidade e faz de mim um filho abençoado nos caminhos da paz, do amor e da prosperidade.

Saluba, Nanã!


22 de abril de 2016

Ogum iê!


Ogum é o Orixá que rege as batalhas. Todos os instrumentos são consagrados a Ogum, uma vez que, acima de tudo, é ele o Orixá da forja e da metalurgia, processo de manipulação dos metais.
Por isso, um dos símbolos deste Orixá são as sete ferramentas juntas, que representam exatamente este poder sobre os metais, em especial o ferro, considerado o metal negro, símbolo da relação de Ogum com o elemento terra.
Entendemos Ogum, acima de seu papel mitológico, como o impulso Divino primordial. Este Orixá é a força que rege todo início de movimento, força que rompe a barreira estática de todo início de processo. Quem não percebe que o começo de um processo pode parecer lento e difícil, mas que a continuidade de um processo já iniciado não parece tão maçante assim? É Ogum aquela energia que possibilita o início do que quer que seja. É a explosão inicial e a quebra do equilíbrio estático.
Também em Ogum vemos uma forte relação com todos os Orixás. Ele é considerado um dos Orixás mais antigos, já que estava lá quando tudo foi iniciado. É considerado a força irmã da energia de Exu (o movimento), sendo que Exu e Ogum andam sempre juntos.
Ogum é o Orixá do movimento e do impulso. Sua energia se relaciona com todo processo de revolta que gera uma mudança em relação ao padrão anterior. É a energia da conquista que não se preocupa com a manutenção do conquistado. Por isto, diz-se que Ogum é a figura mitológica do grande guerreiro, o grande general que lidera e vence todas as batalhas. O guerreiro valente e impulsivo que, com sua ira e suas armas, submete todos os inimigos e derruba todos os obstáculos.
É um Orixá fortemente relacionado com os elementos terra e fogo, este último mais comum em nossa Umbanda e explicitado pela cor deste Orixá, o vermelho. O branco também atribuído a Ogum mostra sua relação primordial com a Criação, enquanto impulso original de todo o criado.
O modelo do arquétipo demonstrado pelos filhos de Ogum é o das pessoas rebeldes, briguentas e impulsivas. Que perseguem energeticamente seus objetivos e não se desencorajam facilmente. Daquelas que nos momentos difíceis triunfam onde qualquer outro teria abandonado o combate e perdido toda a esperança. Possuem humor mutável, passando por furiosos acessos de raiva ao mais tranquilo dos comportamentos. É o arquétipo das pessoas impetuosas e arrogantes, que se arriscam a melindrar os outros por uma certa falta de discrição quando lhe prestam serviços, mas que, devido à sinceridade e franqueza de suas intenções, tornam-se difíceis de serem odiadas. Os filhos de Ogum nada temem, são atléticos, agressivos e de mau humor, conquistadores, rápidos, agem sem pensar, ofendem-se facilmente, insistem naquilo que desejam, emotivos, impacientes, brigões, arrependem-se facilmente, gostam de comer bem e de beber, temperamento difícil e com muita iniciativa. Os filhos de Ogum não podem ter vícios, principalmente com bebidas e drogas. Não conseguem falar manso, gostando das disputas até no falar. São práticos e não são egoístas, gostando de fazer doação de suas coisas. São apaixonados por viagens, mudanças de endereços, curiosos, adoram inovações tecnológicas. Ogum rege, no corpo humano, o sistema nervoso, as mãos, os pulsos e o sangue. As doenças mais associadas a Ogum são relacionadas às articulações, aparelho digestivo e fígado.
Ogum toma a vanguarda, vai na frente dos outros, o que precede, é o símbolo do primogênito que, através de sua agressão, abre o caminho para quem o segue. É um desbravador em todo o sentido do termo. Por estas características, anda e trabalha junto com Exu, indo na frente, abrindo caminho para Exu passar e trabalhar no Baixo Astral, nas zonas umbralinas, ajudando a combater o mal e defende os Exus dos ataques dos kiumbas nos locais sombrios. Assim, em toda firmeza para Exu, Ogum faz a ronda, também fazendo papel de guardião.
É o protetor dos militares e guerreiros. Tem ânsia de conquistas, mesmo que não tenha nenhuma estratégia, o que o difere de Xangô. Diz-se que Ogum não pede, Ele toma. Tem grande dificuldade de manter as suas conquistas. Ogum é um excelente executor de ideias; é impaciente, sincero, violento e brigão. Abre os caminhos junto com Exu. É objetivo. É o senhor das contendas sempre atacando pela frente, de peito aberto. Sabe armar arapucas para pegar o inimigo.
É o Senhor dos objetos cortantes e armas de fogo. Carrega a força de qualquer impacto, vibrando em todos os momentos impactantes. É o que ferve o sangue. Está presente no calor das coisas, principalmente no fogo. É a força instintiva de Marte, sendo este o planeta regente desse Orixá. Padroeiro de todos aqueles que manejam o ferro, como lanterneiros, maquineiros e ferreiros. Ogum é o símbolo do trabalho, da atividade de criação e expansão.
Ogum representa ou se manifesta através da luta pela sobrevivência e por isso está associado à defesa de todos os reinos, além de estar diretamente associado ao início de tudo, ao novo, à conquista.
Ao encontrarmos a energia do Orixá Ogum, cujo elemento é o fogo, manifestando-se no reino do Orixá Omulu - que é a terra, o chão, o solo, através do calor do sol e traduzimos isso para a calunga pequena ou cemitério, que em termos ritualísticos de Umbanda é o reino de Omulu - temos a formação do desdobramento de Ogum, chamado de Ogum Megê. Ou seja, é o Orixá Ogum atuando na defesa do reino do Orixá Omulu em combinação vibratória com o mesmo, formando este desdobramento de Ogum. É o Ogum magista, ou seja, conquista/defesa através da magia.
Quando o Orixá Ogum manifesta-se na defesa do reino de Xangô, encontramos o desdobramento chamado de Ogum de Lei, ou seja, combinação vibratória do Orixá Ogum com o Orixá Xangô. Em nível de necessidade nossa de terra (ou terreiro) é quando Ogum atua na execução de justiça. É o Ogum da ponderação, ou seja, conquista/defesa através da ponderação, da estratégia.
Ao cruzamento vibratório do Orixá Ogum com o Orixá Oxossi dá-se o nome de Ogum Rompe-Mato. É o Ogum do imediatismo, ou seja, conquista/defesa através da expansão.
Ao cruzamento vibratório do Orixá Ogum com a Orixá Oxum, ou seja, Ogum atuando na defesa dos rios e cascatas, dá-se o nome de Ogum Iara. É o Ogum da diplomacia, ou seja, conquista/defesa através da concórdia, diplomacia.
 E o Orixá Ogum atuando na defesa do reino de Iemanjá, juntamente com a Orixá Iansã (ação sazonal dos ventos e tempestades causando a turbulência das ondas) dá-se o nome a esta manifestação de Ogum Beira-Mar. É o Ogum do inesperado, ou seja, conquista/defesa através de ações inesperadas.
Uma observação importante a se fazer é que cada vez que um Orixá se desdobra por combinar-se com outro, ele absorve algumas de características do Orixá com o qual se combinou, gerando e atendendo assim outras necessidades nossas.
Especificando:
Ogum Megê – este desdobramento de Ogum, gerado pela união dos elementos terra (Omulu) e fogo, está presente nos assuntos atinentes a desmanche de magia.
Ogum de Lei – este desdobramento de Ogum está presente nos assuntos atinentes a execução de justiça.
Ogum Iara – este desdobramento de Ogum está presente nos assuntos atinentes a conquistas diplomáticas.
Ogum Rompe Mato – este desdobramento de Ogum está presente nos assuntos pertinentes a coisas de solução rápida, revigorantes e de conquista de espaço de maneira geral.
Ogum Beira Mar – este desdobramento de Ogum está presente nos assuntos atinentes a conquista material e de fortuna.
Estas são as manifestações mais comuns que se apresentam nos terreiros e são considerados chefes de linha, outras encontradas em nível de terreiro são consideradas desdobramentos destes desdobramentos.


Em função de sua característica básica de luta e guerra, o Orixá Ogum foi associado ao planeta Marte, que rege a terça-feira, e por extensão é o dia da semana em que cultuamos Ogum na Umbanda. O dia em que homenageamos Ogum é 23 de abril. Na Umbanda é sincretizado com São Jorge, mas NÃO é este Santo! Suas cores são o vermelho e branco. Seus domínios são as estradas, encruzilhadas, cachoeiras e o mar. Seu Amalá é a feijoada feita de feijão fradinho ou feijão vermelho.

Ogum iê, meu Pai! Saravá!



11 de março de 2016

Inveja: a tristeza pela felicidade do outro

A tristeza em relação às coisas boas dos outros. É essa a definição de Tomás de Aquino para a inveja. Napoleão Bonaparte, por sua vez, costumava afirmar que "a inveja é um atestado de inferioridade". Ao contrário dos demais pecados, a inveja é um pecado que causa vergonha, que não goza de boa reputação.
Dizer-se guloso não é problema para ninguém. Dizer-se luxurioso é, muitas vezes, motivo para gabar-se. O pecado da ira é, em nossos dias, comum no trânsito, nas relações de trabalho e nas familiares. Mas dizer-se invejoso, ah isso não. Quase nunca admitimos que temos inveja de algo. E quando admitimos, dizemos que é uma inveja branca, o que não existe!
Para Espinosa, “Se imaginarmos que alguém se alegra com uma coisa que pode ser possuída apenas por um só, esforçar-nos-emos por fazer de maneira que ele não possua esta coisa. [...] Vemos assim como os homens são geralmente dispostos por natureza a invejar aqueles que são felizes e a invejá-los com um ódio tanto maior quanto mais amam a coisa que imaginam na posse do outro”.
Renato Mezan, em um artigo publicado em Os Sentidos da Paixão, vai nos dizer que a “inveja tem parentesco com o desejo, a agressividade, a astúcia e a sagacidade, o roubo e a rapina; há algo nela que tem a ver com os olhos; seu objeto é indeterminado, variando do ‘qualquer coisa’ ao ‘tudo’”. E, por isso, devemos estar atentos à diferença entre a cobiça e a inveja. Cobiçar é desejar o que os outros têm. E esta pode ser positiva. Agora a inveja nunca é positiva, é sempre tristeza pela alegria alheia, pelo que o outro tem.
Neste aspecto, voltamos à etimologia da palavra, que vem do latim invidia, aquele que não vê. O invejoso não vê a si, só vê os outros. No Inferno de Dante, os invejosos têm os olhos costurados com arame. O que está relacionado com a não visão que a inveja provoca.
Pintada como uma mulher sinistra por Giotto, a inveja tem uma serpente que sai de sua boca e que retorna a ela, penetrando-a pelos olhos, parecendo querer dizer que a energia enviada pela pessoa invejosa retorna sobre o sujeito, cegando-o, envenenando seu olhar, infundindo-lhe um olho mau.

Ainda sob o aspecto da visão, não é demais lembrar o “olho gordo” da inveja, que seca, esteriliza e mata. A palavra também quer dizer olhar com malícia. É comumente associada à cor verde, como na expressão "verde de inveja". A frase "monstro de olhos esverdeados" se refere a um indivíduo que é motivado pela inveja. A expressão é retirada de uma frase de Otelo de Shakespeare, cuja personagem Iago é a personificação da inveja.
A inveja está fundada no ódio e a espoliação se faz com agressividade. No entanto, é importante atentar-se para o fato de que, embora esteja ligada à voracidade, a inveja não se confunde com ela: o voraz quer obter algo para si, o invejoso, não. O objetivo do invejoso é tirar algo do, o invejoso não inveja o que precisa para si, mas algo que precisa tirar do outro. É o que ocorre entre Caim e Abel:
1Adão conheceu Eva, sua mulher, e ela concebeu e deu à luz Caim, e disse: “Possuí um homem com a ajuda do Senhor.” 2E deu em seguida à luz Abel, irmão de Caim. Abel tornou-se pastor e Caim lavrador. 3Passado algum tempo, ofereceu Caim frutos da terra em oblação ao Senhor. 4Abel, de seu lado, ofereceu dos primogênitos do seu rebanho e das gorduras dele; e o Senhor olhou com agrado para Abel e para sua oblação, 5mas não olhou para Caim, nem para os seus dons. Caim ficou extremamente irritado com isso, e o seu semblante tornou-se abatido. 6O Senhor disse-lhe: “Por que estás irado? E por que está abatido o teu semblante? 7Se praticares o bem, sem dúvida alguma poderás reabilitar-te. Mas se precederes mal, o pecado estará à tua porta, espreitando-te; mas, tu deverás dominá-lo”. 8Caim disse então a Abel, seu irmão: “Vamos ao campo.” Logo que chegaram ao campo, Caim atirou-se sobre seu irmão e matou-o (Gn 4,1-9).
A representação de Ovídio é peculiar:
A inveja habita no fundo de um vale onde jamais se vê o sol. Nenhum vento o atravessa; ali reinam a tristeza e o frio, jamais se acende o fogo, há sempre trevas espessas [...]. A palidez cobre seu rosto, seu corpo é descarnado, o olhar não se fixa em parte alguma. Tem os dentes manchados de tártaro, o seio esverdeado pela bile, a língua úmida de veneno. Ela ignora o sorriso, salvo aquele que é excitado pela visão da dor [...]. Assiste com despeito o sucesso dos homens e esse espetáculo a corrói; ao dilacerar os outros, ela se dilacera a si mesma, e este é seu suplício (OVÍDIO, 1996, p. 770 e seg.).
A inveja está relacionada com alguém próximo a nós. Não invejamos a quem está longe, mas invejamos o cunhado, o colega de trabalho, o vizinho. E muitas vezes colocamos a inveja como o motivo de nossa falta: o fato de não ter conseguido um emprego, o fato de não ter conseguido uma vaga na universidade, o fato de não ter conseguido uma bolsa de estudos.
Se postarmos agora no Facebook o seguinte: “Estou muito feliz, fui promovida, estou bem de saúde e amando!”. Que respostas teremos? “Hummm...”, “Sei.”, ou o silêncio. Mas e se postarmos “Luto”, logo teremos uma lista enorme de solidariedade. O invejoso não se reconhece, o invejoso não vê (novamente a etimologia da palavra).
Espiritualmente, o invejoso é um vampiro de energia e, sendo assim, com certeza acarretará muitos problemas para si, tanto na vida presente quanto no seu karma em geral.
O invejoso sempre almeja o que não tem. Machado de Assis nos diz que, em vez de pensar-se a si mesmo, a inveja nos dá a cegueira para não enxergar a nós mesmos. Estamos, sempre, buscando o que nos falta, pela comparação com o outro. E sempre haverá alguém pior e alguém melhor do que eu.
Fonte: Kyldes Batista Vicente


5 de março de 2016

Crianças na Umbanda

Crianças ou Ibeijada são espíritos que incorporam em médiuns da Umbanda e de outras religiões afro-brasileiras, trazendo nomes infantis. Caracterizam uma criança na forma de falar, nos gestos, na inocência das brincadeiras, transmitindo muita alegria na maioria das vezes. São representados em imagem tripla (Cosme, Damião e Doum) ou sincretizados na imagem dos santos gêmeos Cosme e Damião, e em algumas regiões chamados também de Crispim e Crispiniano.

Por ocasião da festa, a 27 de setembro, os terreiros distribuem doces e fazem uma mesa farta para as crianças que incorporam nos médiuns. As cores são azul claro e rosa. As entidades possuem diversos pontos de atuação: cachoeiras, praias, matas e lajeados.

As oferendas normalmente são feitas em jardins e são sempre doces, refrigerantes, além de frutas. Quando incorporam nos terreiros, são brincalhões, travessos, meigos e chorões. São entidades de grande atuação e força espiritual. Sempre se comenta nos terreiros que quando uma criança faz um trabalho, só ela tem o poder de tirar. Também têm grande poder de cura.
Exemplos de nomes de crianças:
Rosinha da Praia
Ritinha
Mariazinha da beira da Praia
Mariazinha da pedra da Cachoeira
Marcelinho
Pedrinho da Praia
Jorginho
Pedrinho da Mata
Caboclinho da Mata
Mariazinha da Mata
Joãozinho da Pedra Branca
Zezinho do Lajedo
Bentinha
Mariazinha
Julinha
Joãozinho
Camponesa
Raio de Sol
Rosinha
Malandrinho
Joãozinho da Mata
Aninha
Crispim do Cantua
Zezé
Zezinho
Joaninha
Juquinha
Ritinha
Paulinho
Estherzinha
Maria Flor
Terezinha
Miguelzinho

Jeremias
Geremias
Margarida
Catarina
Lazinho

Esta faculdade de apresentar-se e agir como criança, não quer dizer que seja um espírito-criança. Pode ser, talvez, mais velho que os pais. Ele vem com aspecto ou forma infantil porque é conveniente vir assim, pois do contrário, dificilmente seria reconhecido. E também por se identificar com esta linha de trabalho.

1 de março de 2016

Ogum

Ogum é o Orixá que rege as batalhas. Todos os instrumentos são consagrados a Ogum, uma vez que, acima de tudo, é ele o Orixá da forja e da metalurgia, processo de manipulação dos metais.
Por isso, um dos símbolos deste Orixá são as sete ferramentas juntas, que representam exatamente este poder sobre os metais, em especial o ferro, considerado o metal negro, símbolo da relação de Ogum com o elemento terra.
Entendemos Ogum, acima de seu papel mitológico, como o impulso Divino primordial. Este Orixá é a força que rege todo início de movimento, força que rompe a barreira estática de todo início de processo. Quem não percebe que o começo de um processo pode parecer lento e difícil, mas que a continuidade de um processo já iniciado não parece tão maçante assim? É Ogum aquela energia que possibilita o início do que quer que seja. É a explosão inicial e a quebra do equilíbrio estático.
Também em Ogum vemos uma forte relação com todos os Orixás. Ele é considerado um dos Orixás mais antigos, já que estava lá quando tudo foi iniciado. É considerado a força irmã da energia de Exu (o movimento), sendo que Exu e Ogum andam sempre juntos.
Ogum é o Orixá do movimento e do impulso. Sua energia se relaciona com todo processo de revolta que gera uma mudança em relação ao padrão anterior. É a energia da conquista que não se preocupa com a manutenção do conquistado. Por isto, diz-se que Ogum é a figura mitológica do grande guerreiro, o grande general que lidera e vence todas as batalhas. O guerreiro valente e impulsivo que, com sua ira e suas armas, submete todos os inimigos e derruba todos os obstáculos.
É um Orixá fortemente relacionado com os elementos terra e fogo, este último mais comum em nossa Umbanda e explicitado pela cor deste Orixá, o vermelho. O branco também atribuído a Ogum mostra sua relação primordial com a Criação, enquanto impulso original de todo o criado.
O modelo do arquétipo demonstrado pelos filhos de Ogum é o das pessoas rebeldes, briguentas e impulsivas. Que perseguem energeticamente seus objetivos e não se desencorajam facilmente. Daquelas que nos momentos difíceis triunfam onde qualquer outro teria abandonado o combate e perdido toda a esperança. Possuem humor mutável, passando por furiosos acessos de raiva ao mais tranquilo dos comportamentos. É o arquétipo das pessoas impetuosas e arrogantes, que se arriscam a melindrar os outros por uma certa falta de discrição quando lhe prestam serviços, mas que, devido à sinceridade e franqueza de suas intenções, tornam-se difíceis de serem odiadas. Os filhos de Ogum nada temem, são atléticos, agressivos e de mau humor, conquistadores, rápidos, agem sem pensar, ofendem-se facilmente, insistem naquilo que desejam, emotivos, impacientes, brigões, arrependem-se facilmente, gostam de comer bem e de beber, temperamento difícil e com muita iniciativa. Os filhos de Ogum não podem ter vícios, principalmente com bebidas e drogas. Não conseguem falar manso, gostando das disputas até no falar. São práticos e não são egoístas, gostando de fazer doação de suas coisas. São apaixonados por viagens, mudanças de endereços, curiosos, adoram inovações tecnológicas. Ogum rege, no corpo humano, o sistema nervoso, as mãos, os pulsos e o sangue. As doenças mais associadas a Ogum são relacionadas às articulações, aparelho digestivo e fígado.
Ogum toma a vanguarda, vai na frente dos outros, o que precede, é o símbolo do primogênito que, através de sua agressão, abre o caminho para quem o segue. É um desbravador em todo o sentido do termo. Por estas características, anda e trabalha junto com Exu, indo na frente, abrindo caminho para Exu passar e trabalhar no Baixo Astral, nas zonas umbralinas, ajudando a combater o mal e defende os Exus dos ataques dos kiumbas nos locais sombrios. Assim, em toda firmeza para Exu, Ogum faz a ronda, também fazendo papel de guardião.
É o protetor dos militares e guerreiros. Tem ânsia de conquistas, mesmo que não tenha nenhuma estratégia, o que o difere de Xangô. Diz-se que Ogum não pede, Ele toma. Tem grande dificuldade de manter as suas conquistas. Ogum é um excelente executor de ideias; é impaciente, sincero, violento e brigão. Abre os caminhos junto com Exu. É objetivo. É o senhor das contendas sempre atacando pela frente, de peito aberto. Sabe armar arapucas para pegar o inimigo.
É o Senhor dos objetos cortantes e armas de fogo. Carrega a força de qualquer impacto, vibrando em todos os momentos impactantes. É o que ferve o sangue. Está presente no calor das coisas, principalmente no fogo. É a força instintiva de Marte, sendo este o planeta regente desse Orixá. Padroeiro de todos aqueles que manejam o ferro, como lanterneiros, maquineiros e ferreiros. Ogum é o símbolo do trabalho, da atividade de criação e expansão.
Seu dia é 23 de abril. Na Umbanda é sincretizado com São Jorge. Seu dia da semana é a terça-feira e suas cores são o vermelho e branco. Seus domínios são as estradas, encruzilhadas, cachoeiras e o mar. Seu Amalá é a feijoada feita de feijão fradinho ou feijão vermelho.