CARNAVAL
Muitos me perguntam: afinal de contas, o umbandista pode ou não
pode pular o carnaval? Pode se divertir nesta data? Outros afirmam que o
umbandista pode se divertir desde que não use máscara ou fantasia. Isto é um
mito... Bem, vamos às explicações sobre este mito.
Conheço pessoas que durante todo o ano deixam de fazer o que
querem, subjugam-se a modos de vida que acham mais prático, porque
aparentemente não há tantos embates. Não sentem necessidade de se situarem com
os pés no chão em suas ações cotidianas, pois acreditam que atingiram zonas
confortáveis de segurança na rotina das suas vidas, na interdependência do
círculo familiar, na eterna tolerância ao tédio no trabalho e aparentes
relações amistosas com todos ao redor. Ou seja, fingem ser o que não são...
tornam-se hipócritas.
São pessoas que vivem como que na superfície da verdadeira vida.
Aqueles que passam a vida a ver as sombras na parede, se formos lembrar do mito
da caverna de Platão. Só que chega o carnaval e parece que na mente e no íntimo
destas pessoas ocorre uma espécie de desbloqueio, e todas as barreiras morais e
sociais se neutralizam, entrando em clima de “vale tudo”, como se fosse uma
compensação pelo “comportamento exemplar de todo o resto do ano”. Alegam que
“merecem” ser felizes por um dia e caem na folia.
Muitos se divertem sadia e equilibradamente, apenas usando o
momento para abolir as preocupações e afastarem-se das obrigações e
responsabilidades diárias, nem que seja por uns poucos dias. Outros, porém,
cometem todo o tipo de desvarios, comprometendo-se e, às vezes, levando outros
de roldão em atos de imprudência, selvageria, colocando em risco sua
integridade física e moral.
Tentar resolver ou esquecer os problemas pessoais durante os dias
de folia carnavalesca é o pior caminho que alguém pode tomar. Pois o carnaval,
que parece na sua manifestação física como explosões de cores e alegria, traz a
beleza descompromissada, mas ocorre que não há equilíbrio nas forças emocionais
e passionais que estão libertas, ricocheteando no ambiente uma energia sem
ajustes e sem limites, onde no meio das quais estão à espreita outros seres com
as piores intenções, que absorvem avidamente estas energias, vampirizando
intensamente os foliões invigilantes.
São portais que se abrem em regiões profundas e obscuras, deixando
passar entidades vingativas, perversas, artífices na arte do ilusionismo,
mostrando para os incautos que se “divertem”, situações de êxtase, realizações,
todo tipo de engodo auxiliado pelas drogas, pelo álcool, pela sexualidade
exacerbada, de modo a aprisionarem facilmente quantos estejam à descoberto de
sua proteção, inseguros de seus projetos de vida, desequilibrados
emocionalmente, esvaziados de verdadeiros sentimentos, minados por angústias e
rancores mal resolvidos.
Os blocos, a fuzarcas, escondem verdadeiros campos de batalha nos
paralelos astrais.
Não existe acaso, e a Ordem e a Lei nunca se cumprem aleatória e
injustamente. Não há que se ter medo do carnaval e o posterior período da quaresma.
Em diferentes pontos do planeta, desde o início dos tempos, há periodicamente
estes bolsões, estes “gaps” energéticos a sugarem aqueles que precisam ser
acordados e sacudidos diante das Verdades, ou o resgate daqueles que abusaram
da fé de outros, negociaram com o destino que não lhes pertencia, que
esqueceram valores como respeito, amizade, cortesia.
Este post não quer mostrar conceitos de falso moralismo, de
ostentação de um comportamento sisudo e sombrio. Pelo contrário, o umbandista,
quando alcança o auto-conhecimento e a verdadeira paz, tem um constante sorriso
nos lábios, seu coração nunca está vazio, suas mãos, sempre laboriosas. Não há
espaço para tédio ou rotina na sua vida, porque aprendeu a fazer acontecer,
aprendeu a guiar seus dias e suas horas de maneira proveitosa, sem perder tempo
em contendas menores, pelejas inúteis. Não sente necessidade de compensar nada,
pois já se encontra bem e em equilíbrio. Não sente necessidade de “sair do
sério”, “compensar o resto do ano”, “cair na gandaia”… Até porque sabe que por detrás
do ambiente glamuroso há um outro ambiente, ávido e perigoso.
E que uns poucos dias de alienação compulsória não mudarão o
cenário de um mundo que está passando por profundas modificações
socioeconômicas, geológicas, ideológicas, num panorama preocupante com as frequentes
catástrofes ambientais, com a miséria descortinada, e lugares com profundos
estremecimentos políticos.
O Carnaval, para o umbandista, deve ser um momento de reflexão.
Repensar os verdadeiros valores, observar que nada é tão precioso como os
relacionamentos puros e sinceros, que se fortalecem ao passar dos anos e se
renovam em meio a crises.
Pode, sim, perfeitamente ser um momento de descanso e descontração
do físico, sair um pouco da rotina pesada de trabalho, estudo, numa
oportunidade de maior interação com a família e amigos, na meditação saudável
sobre planos, resolução de metas, construção de sonhos. Na vibração positiva
pela humanidade e sua evolução, na reflexão profunda sobre seu caminho, suas
certezas, suas metas. No pensamento de paz e harmonia universal, obtenção de
uma reserva de serenidade, clareza de mente, esperança e fé.
Alguns umbandistas, com menos conhecimento ou que não refletem
sobre os mitos repassados, acreditam que os Orixás afastam-se do planeta, e que
até os Exus, nossos guardiães, “ganham liberdade” e são “soltos” (como se
estivessem presos por nós! rsrsrs), não realizando sua função de proteção...
Ora, vamos ser racionais e refletir: você acredita mesmo que os
Orixás, Entidades e os Exus que são designados para nos proteger, orientar,
fazer caridade vão mesmo se afastar e nos deixar à mercê? Que estamos fadados a
sermos pegos por kiumbas e Eguns? Faz sentido? Faz sentido o fato de, se um
umbandista resolver brincar um pouco com sua família e amigos, dentro do bom
senso e do equilíbrio, sem exageros, vai ser castigado ficando com um kiumba
obsessor à tiracolo?
Como umbandista, acredito que nesta época do ano abrem-se determinados portais...
O que temos que cuidar no carnaval – e em todas as épocas – é com
os excessos... Mas, na época de carnaval, por causa da densa energia coletiva
emanada, o pensamento excessivamente libertino que permeia a ambiência
prejudica o equilíbrio, atrai espíritos vingativos, malévolos, vampirescos –
daí a necessidade de maior vigilância por nossa parte. Mas é nesta época que os
Exus de Lei, os Exus Guardiões, patrulham ainda mais a crosta brasileira, como
o fazem em outras ocasiões em vários momentos.
Os dirigentes sérios e com conhecimento de causa orientam que, se
os umbandistas forem participar das festividades carnavalescas, apresentem-se
exatamente como são, sem engodos e sem ilusões, respeitando-se e respeitando os
outros, sem abusos de bebidas, sem ingerir drogas e se resguardem, pois estarão
conscientes que os locais estão densos, pesados de todo tipo de pensamento.
Para finalizar, vamos refletir que ao citarmos influências
positivas e negativas, não devemos considerá-las exatos sinônimos de Bem e Mal.
Devemos ter a compreensão que todos estaremos sempre passando do pólo negativo
ao positivo, faz parte da roda da vida, um pólo se interpondo ao outro, quando
se esgota o pólo negativo, já está inserido o pólo positivo. Pelo mesmo motivo
aprendemos que não existe escuridão absoluta e que, quando algo chega até o fim
de sua capacidade, se inicia um novo ciclo em outra direção. Todos passamos por
isto e, ao passarmos pelo pólo negativo, se estivermos cheios de pensamentos
desarmonizados, estaremos mais suscetíveis às suas consequências. Se ao
passarmos pelo pólo positivo não tivermos nos dedicado à auto-iluminação, nada
veremos, nada aproveitaremos, será como se tudo fosse igual, pois não estaremos
em condição de vibrar com aqueles que estão nesta faixa. É bem diferente de ser
bom ou mau.
Todos passam pelo positivo e negativo e, assim, seria grande
preconceito dizer que se está sempre do lado positivo e da Luz. Estou tentando
expressar que não é o fato do mundo estar circulando do lado positivo ou
negativo, mas o fato de quem nós realmente somos quando passamos por estas
vibrações. Logo, o que a vida traz para cada um não depende do mundo exterior
ou de outras pessoas, mas o que cada um está fazendo dela, em cada minuto que
estivermos encarnados.
A QUARESMA
Muitos centros de umbanda fecham ou têm o atendimento limitado
no período do carnaval e quaresma, mesmo não sendo datas
ligadas a nossa religião. Por que isto
acontece?
A
dúvida sobre o funcionamento dos Terreiros de Umbanda
durante o carnaval e quaresma vem da época que os Orixás eram proibidos de serem cultuados e
deveriam ser sincretizados com os santos católicos.
Como o período da quaresma corresponde a uma época de reclusão e
reflexão dentro da igreja católica, muitos Terreiros de Umbanda e Candomblé ficavam em uma posição
delicada junto à comunidade católica e fechavam as portas para não terem
problemas com as autoridades locais e com as pessoas em geral, quando poderiam
ser acusados de desrespeitosos com a religião católica.
As
pessoas consideravam que as casas de santo não deveriam bater tambores ou
praticar qualquer ritual na quaresma, a exemplo da igreja católica que deixa suas imagens cobertas por
mantos de cor roxa em sinal de respeito e luto, onde os católicos se recolhem
em oração e penitência para preparar o espírito para a ressurreição de Cristo.
Os Centros de Umbanda não
precisam parar suas atividades durante a quaresma, podendo funcionar normalmente, pois
não estão ligadas aos dogmas da igreja católica que
determinem que não possam fazer atendimento espiritual nesta ocasião.
Devemos lembrar que estes são rituais católicos e não pertencem à religião umbandista. A quaresma para nós vai marcar apenas o final do ano espiritual
no astral, sendo esta época o encerramento de um ciclo e o início
de outro.
Que cada amanhecer traga a verdadeira felicidade e bem-estar a todos,
com a proteção e vibração das Forças Maiores!
Saravá!