Blog da Casa de Caridade Luz Divina - dirigente espiritual Vovó Luiza

20 de agosto de 2011

A preparação de um médium na Umbanda

Mediunidade, todos sabemos que é um dote comum a todos os encarnados, embora seja maior em uns e menor em outros. Sabemos também que através da mediunidade (ou sensibilidade mediúnica) o ser encarnado consegue se comunicar com outros seres já libertos da matéria e até mesmo com seres ainda encarnados que estejam em outros locais.

Vamos nos basear na mediunidade de incorporação lembrando, no entanto, que, seja o tipo que for a
mediunidade, para ser bem utilizada e o médium poder contar com a ajuda de Guias Verdadeiros, ele tem que ter na mente e nas ações os conceitos de HONESTIDADE e RESPEITO, pois sem isso, mais cedo ou mais tarde, acabará por se tornar presa fácil do Baixo-Astral.

Se formos analisar os motivos que levam as pessoas a procurarem a Umbanda veremos que estarão invariavelmente dentro de uma das seguintes situações:
a) Estão com problemas de saúde (ou têm alguém conhecido nessa situação) e não procuraram ainda um médico, seja por que motivo for, ou já o fizeram até insistentemente sem lograrem êxito em suas
tentativas;
b) Estão com dificuldades na vida amorosa, financeira ou familiar, provocadas por perturbações inexplicáveis;
c) São curiosos e querem ver de perto esses "milagres" que dizem acontecer no Espiritismo;
d) Estão passando por problemas que já detectaram como de fundo espiritual e precisam de orientação;
e) Sentiram-se atraídos sem que nem bem soubessem o motivo (caso bem mais raro).
Em qualquer caso acima citado, todos precisarão desde a primeira fase de seu entrosamento com o culto, de orientações claras que lhes possibilitem vislumbrar uma possível solução para seus
problemas e, para isso, os responsáveis pelo Templo deverão estar cientes das responsabilidades que assumirão a partir do momento em que se predispuserem a serem seus orientadores.

Em se tratando de pessoas que por quaisquer desses motivos tenham realmente que receber treinamento para trabalharem sua mediunidade, a primeira lição que o médium tem que aprender é a da lealdade e da honestidade. O médium que inicia seu caminho sem entender o que é ser honesto
consigo mesmo e suas entidades já estará iniciando o caminho com os pés na lama e correndo o risco de afundar em bem pouco tempo.
Todo médium deve compreender que as entidades que lhe acompanham não são "gênios da lâmpada" e que o trabalho que vêm desenvolver está diretamente ligado à evolução espiritual deles e a do
próprio médium. Deve compreender também que não é só porque estão "do outro lado" que devem ser compreendidos como deuses ou espíritos santos, pois muitos que lá estão têm mais fácil acesso ao
mundo material por estarem ainda muito apegados à matéria e possuírem um corpo astral muito denso. Só isso já indica que podem ser até mesmo muito menos evoluídos que o próprio médium.

Normalmente um dirigente preparado tem condição de identificar logo no começo o tipo de acompanhamento espiritual que o médium traz consigo e até mesmo de dizer quem é mais e/ou menos
evoluído que o aparelho e desse modo, quais as entidades que podem realmente ser orientadoras e quais as que têm que ser orientadas antes de tentarem orientar seja quem for. Sob esse prisma, torna-se imprescindível que se fale na inconveniência de, médiuns em início de desenvolvimento receberem Exú e Pombo giras que, como sabemos, são em vias de regra, entidades normalmente menos evoluídas e por isso mesmo não terem capacidade de agirem como Guias de ninguém.

Se um médium vem ao terreiro em busca de orientações positivas para trabalhar sua mediunidade e sua evolução, tem que ter em mente que sua busca só se tornará realidade na medida em que
buscar o acompanhamento de entidades que sejam mais evoluídas do que ele e que, nesse caso, precisam ser buscadas mesmo, porque já habitam em planos mais sutis e não têm um acesso tão fácil à matéria como é o caso de Exús, Pombo Giras e outros ainda menos evoluídos.
Na verdade, um médium iniciante só deveria começar a "dar passagem" para Exús após ter obtido contatos realmente positivos com seus reais Protetores e Guias, aos quais caberia, por conseguinte, a
orientação dos trabalhos que se faria através de Exú quando se fizesse necessário.

A despeito de todo o carinho que devemos ter para com essas entidades, é preciso que fique bem claro que Exú vem na Umbanda como auxiliar das verdadeiras entidades deste culto.

Vamos considerar que um médium procura um terreiro para se orientar no que tange à sua mediunidade e, em lá chegando, percebe-se que sua sensibilidade já despontou e que urge que ele continue a frequentar as giras de desenvolvimento (quando elas existem). O que normalmente acontece a seguir é que esse médium passa a frequentar o terreiro e nem sempre é devidamente orientado
pelo(s) seu(s) dirigente(s), para que comece a estudar sobre as coisas que ali acontecem e que podem acontecer quando ele vai abrindo a guarda para "o que der e vier", bem assim como, em consequência de um desenvolvimento desorientado, começa a "dar a cabeça" para qualquer tipo de vibração que se aproximar sem saber exatamente o que fazer ou como fazer.
Há alguns outros que, estando em giras de desenvolvimento, "não recebem quase nada", mas quando se trata de uma gira de Exú...
Nos dois casos, o primeiro pela ignorância (no bom sentido) e o segundo pela afinidade (perigosa nessa etapa de desenvolvimento) o médium corre perigo de começar "com o pé esquerdo", a não ser que, no primeiro caso, tenha um acompanhamento espiritual bastante positivo que, desde o começo assuma o comando de seu "aparelho".

No segundo caso, aqueles que por afinidade se sentem melhor desde o início em giras de Exús e Pombo giras pode significar que:
· O médium sofre atuação direta de espíritos dessa categoria sem que para isso concorra sua vontade, o que impede que entidades de maior grau evolutivo se aproximem. O orientador deve, nestes casos, providenciar o afastamento dessa(s) entidade(s) para que os protetores reais possam se revelar.
· O médium seja um admirador dos Exús e Pombo giras, o que o sintoniza bem com essas entidades e facilita-lhes a atuação com consequências idênticas ao caso anterior. O orientador deve fazer ver a esse filho que ele está dificultando uma possível ação dos seus VERDADEIROS GUIAS.
· Durante as incorporações com Exús e/ou Pombo giras o médium se sinta mais forte, mais seguro, o que o faz pensar serem eles os mais fortes e mais seguros. O que ele não sabe é que essa sensação acontece muito mais pelo tipo de energias bastante densas que essas entidades trazem consigo do que pelo seus possíveis "poderes".
· Há ainda aqueles que, por sentirem o respeito e até o medo que essas entidades costumam induzir nos menos avisados, através da incorporação, dão vazão a alguns possíveis complexos que trazem guardados no recôndito de suas almas - com eles sentem-se poderosos, intocáveis. O orientador
nesse caso, deve explicar a esses filhos que esse poder induzido é falso. Essa energia é da entidade incorporante e que o poder verdadeiro só chega para aqueles que alcançam o domínio da própria vontade, do próprio ser, conseguindo através disso, assumir as rédeas de sua própria vida.
Exús e Pombo giras encontram, não raramente, uma facilidade maior de contato com os seres humanos e, desse modo, quando pretendem assumir o comando, o que não é correto, agem como obsessores transmitindo ao médium a segurança e as facilidades materiais que ele espera de uma entidade "positiva" e com isso bloqueiam e fazem com que o próprio médium bloqueie, os canais de comunicação com as verdadeiras entidades guias. Daí a importância do médium estar em contato positivo com seus
verdadeiros guias ANTES de começar a "dar cabeça para Exús e Pombo giras".

É o contato com essas entidades mais evoluídas que o fará compreender a necessidade do trabalho pela evolução e consequente libertação desse Campo Vibratório, e, nesse caso, é o médium bem preparado que lhe facilita o acesso e a compreensão necessárias.
No caso do médium iniciante, antes de qualquer tipo de trabalho com Exús e Pombo giras, é imprescindível que ele:
· Esteja em pleno contato com a(s) entidade(s) responsável(is) pelo seu desenvolvimento - normalmente um(a) Caboclo(a) ou Preto(a) Velho(a).
· Tenha sido constatado pelo(a) dirigente que este médium consegue incorporações realmente positivas com essas entidades e que não use o pretexto da "incorporação" para sair dizendo ou fazendo o que não teria coragem de dizer ou fazer em estado normal (só isso aí já mostra o total despreparo que podemos observar até em muitos médiuns que se dizem "prontos").
· Tenha em mente que o seu futuro trabalho com Exús e Pombo giras devem seguir orientações dadas previamente por seus protetores e guias (considerando-os positivamente ligados ao médium) e, no início, sempre que lhe for determinado qualquer tipo de trabalho por essas entidades, este seja passado pelo crivo de uma entidade superior antes de sua realização.
Esse último item é tão importante quanto normalmente esquecido.

Não raramente vemos médiuns que mal sabem caminhar por si acharem que por "receberem" a entidade X ou Y no Terreiro (sem terem feito a confirmação através do ponto riscado e do ponto cantado, o ponto de raiz), já estão preparados para "darem consultas" e "desmancharem" trabalhos. Se perguntados sobre o que sabem respondem logo: -"Eu nada, mas é a entidade quem tem que saber tudo".
Esses são os eternos "CAVALOS DE ENTIDADES". São montados, usados, e não raramente largados mais cedo ou mais tarde por essas entidades que se diziam Esse ou Aquele e que quase sempre
não são nem um nem outro.

Pelo que vimos acima é de extrema importância que um médium iniciante receba informações precisas que, se bem aprendidas, o livrarão de boas emboscadas do baixo astral, não só no início, mas em toda a sua vida mediúnica.
Todo dirigente honesto e que tenha reais conhecimentos no trato com o mundo espiritual tem que saber muito bem que não basta (para que um médium, e mesmo os que não se acham médiuns, venham a ser realmente positivos) que se cumpram os preceitos físicos (ex: frequentar as reuniões, ser batizado dentro do ritual específico, realizar suas "obrigações", etc.) da Umbanda. Se a pessoa não assumir um
comportamento adequado com os ensinamentos, não for honesto e leal consigo e com os seres invisíveis estará fadada a grandes infortúnios.
Qualquer um que queira "ganhar o Paraíso" NO GRITO apenas por meios materiais, sem se preocupar com sua própria mudança interna, ESTÁ SE ENGANANDO e enganando a todos os que o seguem.

Nos preocupamos com esses aspectos da religião porque é preciso que todos os que nela se iniciam estejam cientes das responsabilidades que assumem consigo e com entidades mais e menos
evoluídas que por certo se apresentarão para acompanhá-los pelos novos caminhos, bem assim como cientes devem estar de que, desde que devidamente orientados, cada um é responsável pelas ações comportamentais que os levarão às vitórias reais ou a pseudo-vitórias temporárias com consequências às vezes funestas.
Irmão Dirigente, Pai no Santo, Babalorixá ou outro qualquer nome que queira ter em cargo de chefia, desde que o seja de fato, preste atenção: mais do que nunca é importante que as pessoas sejam corretamente orientadas nos cultos que envolverem práticas com o "Mundo Invisível". Todos nós sabemos que as armadilhas do Baixo Astral existem, que não são meras lendas e que elas acontecem até com o nome de Jesus diretamente envolvido. Todos nós sabemos que os que hoje vêm em busca de orientação poderão ser amanhã os que levarão esses conhecimentos a outros, dando continuidade e até melhorando as formas de propagação de nossas doutrinas e cultos, e desse modo, é de suprema importância que os médiuns que nos procuram sejam honestamente orientados, recebam ensinamentos que sejam importantes para aperfeiçoarem seus dotes mediúnicos de tal forma que possam ter acesso positivo às entidades dos diversos Planos Evolutivos e, principalmente, sejam levados a compreender que uma vez iniciado seu caminho dentro da Umbanda, sinceridade, honestidade, coragem e FÉ deverão ser as companheiras inseparáveis que os tornarão aptos a aprenderem com os que estiverem acima e ensinarem aos que estiverem abaixo.
Cada Dirigente de grupo ou Terreiro deve ter em mente que tem o dever de orientar seus dirigidos fazendo-os compreender suas responsabilidades e deveres para com o grupo, as entidades, os rituais praticados, consigo mesmo e principalmente com aqueles que vêm em busca de auxílio.
É muito importante que cada médium do Terreiro compreenda seu valor dentro do ritual e saiba que, se cada um der o melhor de si, todos serão beneficiados. É também muito importante que esses médiuns, iniciantes ou não, entendam que o grupo a que pertencem é tão poderoso quanto o indivíduo mais fraco que ali esteja (em outras palavras e como costumamos ouvir: "a corrente é tão forte quanto o mais fraco de seus elos"), e dessa forma, ainda que o Chefe do grupo "tenha grandes poderes mediúnicos", se houver no grupo pessoas medrosas, vacilantes, despreparadas, pessoas que por qualquer motivo possam ser presas fáceis do Baixo Astral, pode ter certeza: é por essa(s) porta(s) que uma "derrubada" pode começar.

Raciocinando sobre tudo o que foi dito, veremos que:
1. Médium iniciante deverá sempre frequentar sessões especiais onde vai começar a aprender a ter contatos positivos com o Mundo Invisível.
2. Médiuns iniciantes não devem participar de Sessões de Trabalho antes de terem preparação adequada, para que não comprometam a segurança do Terreiro e a sua própria.
3. Médiuns iniciantes devem ser "trabalhados" para que consigam real contato com suas entidades protetoras e guias antes de se aventurarem a participar de trabalhos pesados e até mesmo de Giras
de Exú.
4. A preparação adequada de um médium iniciante tem que incluir obrigatoriamente a aprendizagem de conceitos como FÉ, HONESTIDADE (em todos os sentidos), CORAGEM (ausência de medo), e PERSEVERANÇA.

É tão importante essa fase de preparação que é a partir daí que se poderá formar médiuns de caráter, conhecimentos e possibilidades mediúnicas exemplares ou pessoas com dotes mediúnicos, conhecimentos e caráter deturpados por medos, prepotências, orgulho, vaidade, dúvidas, inseguranças e, como consequência, com atuações espirituais duvidosas, tanto no que diz respeito à atuação em si (como no caso de animismo, quando o médium pensa estar atuado e não está), como em relação ao real valor das entidades que realmente atuem sobre ele.
Se o médium é dado como "pronto" e verdadeiramente não está, longe de vir a ser mais um auxiliar positivo para os trabalhos do grupo, ele fatalmente virá a ser o "ponto fraco" por onde mais cedo ou mais tarde poderão se infiltrar elementos do Baixo Astral com todas as consequências.
Em relação a si próprio, o médium enganado (há também os que gostam de se enganar), pensando contar com a presença positiva de entidades, poderá vir a cometer erros comportamentais e
ritualísticos que acabarão por atrair para ele (e talvez para outros) problemas de grande monta, levando-o até mesmo, na melhor das hipóteses, à descrença e ao abandono do culto.
Termino com a letra de um Ponto Cantado por nossas entidades que por certo merece um pouco de atenção:
"É devagar, é devagarinho... (bis)
Quem caminha com Preto Velho
Não fica pelo caminho".
Fonte: Claudio Zeus (livro Umbanda sem Medo)